Tropo de antiga identificação, consiste no emprego da relação pars pro parte. Distingue-se de tropo aproximado, a sinédoque, que, entretanto, não passa de um caso metonímico especial, realizando-se, como este, sob o eixo da combinação. As metonímias podem ser simples, como no exemplo, uma bela porcelana, onde o objeto — vaso — é designado por sua matéria, ou complexas, como na seguinte passagem das Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade: “Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares”. Para facilitarmos o entendimento da rede metonímia aí travada, convertamos a frase em sua corespondente corriqueira: “Céus amáveis iluminavam partes das ruas dos squares, em cujos arbustos pássaros pipilavam”. Cotejando as duas formulações — a primeira, verdadeira, a segunda hipotética — descobrimos dois tipos de transposições metonímicas. A primeira, menos relevantes, é de ordem vocabular: estiadas substituem céus, instantes substituem partes, sobre substitui em cujos. A segunda, de ordem espacial, contém a própria chave da força oswaldina. Na frase hipotética habitual, apresenta-se uma reação especial simples, alto — baixo (céu — rua). Já a frase própria do Miramar capta a lógica interna do brilho a que alude: estiadas (já vocabularmente metonímico) se investe da ação causadora quanto a céus (termo deslocado), mudança que é intensificada pela permutação da categoria de espaço (partes das ruas) pela de tempo (instantes de céus), permutação que, por sua vez, realça por seu resultado uma leve sombra metafórica. As relações de contiguidade são ainda mais nitidamente afetadas pela deslocação especial de dos squares, mediante a qual parte subordinada ao elemento deslocado (pipilos) se investe de sentido autônomo, enquanto, reciprocamente, dos squares, ao ser deslocado, aparece como dependente doutro elemento (arbustos), que, na construção ordinária, seria parte subordinada sua. A partir deste pequeno exemplo, podemos entender a justeza da expressão “prosa cubista” com que Haroldo de Campos definiu a ficção do autor (Luiz Carlos Lima – DCC).