Filosofia – Pensadores e Obras

metodologia

A parte da lógica que estuda os métodos das diversas ordens de conhecimento. Esse estudo não consiste em inventar um método de investigação, mas simplesmente em descrever os que são praticados. (V. epistemologia.) [Larousse]


(in. Methodology; fr. Méthodologie; al. Methodologye, Methodenlehre; it. Metodologia).

Com este termo podem ser designadas quatro coisas diferentes: 1) lógica ou parte da lógica que estuda os métodos; 2) lógica transcendental aplicada; 3) conjunto de procedimentos metódicos de uma ou mais ciências; 4) a análise filosófica de tais procedimentos.

1) A lógica foi interpretada como metodologia na fase pós-cartesiana. Segundo a Lógica de Port-Royal, “a lógica é a arte de bem conduzir a própria razão no conhecimento das coisas, tanto para instruir-se quanto para instruir aos outros”. No mesmo sentido, Wolff definia a lógica como “a ciência de dirigir a faculdade cognoscitiva no conhecimento da verdade” (Log., § 1). Esse conceito de lógica pode ser encontrado também na definição de Stuart Mill, como “ciência das operações do intelecto que servem para a avaliação da prova” (Logic, Intr., § 7). Por outro lado, a metodologia também foi considerada uma parte da lógica. Pedro Ramus dividia a lógica em quatro partes: doutrina do conceito, do juízo, do raciocínio e do método (Dialecticae institutiones, 1543); essa divisão, aceita pela Lógica de Port-Royal, tornou-se tradicional e foi constantemente adotada pela lógica filosófica do séc. XIX (v. para todos Benno Erdmann, Logick, 1892,1, § 7). A partir de Wolff (Log., §§ 505 ss.), a doutrina do método foi frequentemente denominada de lógica prática.

2) A metodologia foi entendida por Kant como lógica transcendental aplicada ou “prática”. Constitui a segunda parte principal da Crítica da Razão Pura, cujo objetivo é “determinar as condições formais de um sistema completo da razão pura”; compreende uma disciplina, um cânon, uma arquitetura e, finalmente, uma história da razão pura. O próprio Kant confronta essa parte de sua obra com a lógica formal aplicada ou prática: “Do ponto de vista transcendental, faremos o que se procurou fazer nas escolas com o nome de lógica prática em relação ao uso do intelecto em geral, mas que se fez mal, porque, não se limitando a um modo especial de conhecimento intelectual (p. ex., o puro), nem a certos objetos, a lógica geral nada mais pode fazer senão propor títulos de métodos possíveis e de expressões técnicas” (Crít. R. Pura, Doutr. transe, do método, Intr.).

3) Com o nome de metodologia hoje é frequentemente indicado o conjunto de procedimentos técnicos de averiguação ou verificação à disposição de determinada disciplina ou grupo de disciplinas. Nesse sentido fala-se, p. ex., de “metodologia das ciências naturais” ou de “metodologia historiográfica”. Nesse aspecto, a metodologia é elaborada no interior de uma disciplina científica ou de um grupo de disciplinas e não tem outro objetivo além de garantir às disciplinas em questão o uso cada vez mais eficaz das técnicas de procedimento de que dispõem.

4) Por outro lado, em estreita conexão com o sentido acima, a metodologia vem-se constituindo como disciplina filosófica relativamente autônoma e destinada à análise das técnicas de investigação empregadas em uma ou mais ciências. Nesse sentido, não são objetos da metodologia os “métodos” das ciências, ou seja, as classificações amplas e aproximativas (análise, síntese, indução, dedução, experimentação, etc), nas quais se inserem as técnicas da pesquisa científica, mas tão-somente essas técnicas, consideradas em suas estruturas específicas e nas condições que possibilitam o seu uso. Tais técnicas compreendem, obviamente, qualquer procedimento linguístico ou operacional, qualquer conceito e qualquer instrumento que uma ou mais disciplinas utilizem na aquisição e na verificação de seus resultados. Nesse sentido, a metodologia é sucessora d) da metafísica, porque a ela cabem os problemas que concernem às relações entre as ciências e as zonas de interferência (e algumas vezes de conflito) entre ciências diferentes; b) da gnosiologia, porquanto substitui a consideração do “conhecimento”, entendido como forma global da atividade humana ou do Espírito em geral, pela consideração dos procedimentos cognoscitivos utilizados por um ou mais campos da investigação científica. Essa metodologia chama-se também “crítica das ciências”. Embora o trabalho realizado por ela nessa direção e iniciado nas primeiras décadas do séc. XX já seja considerável, está faltando até agora uma determinação precisa da tarefa e das orientações dessa disciplina. Cf. todavia autores vários, Fondamenti logici della scienza, Turim, 1947; id., Saggi di critica delle scienze, Turim, 1950: ambos org. pelo Centro di Studi Metodologia di Torino. [Abbagnano]