(gr. typosis; lat. impressio; in. Impression; fr. Impression; al. Eindruck; it. Impressione).
A teoria segundo a qual o conhecimento consiste numa marca ou impressão feita pelas coisas sobre a alma nasce com os estoicos. Estes diziam que “a imagem é um sinete na alma”, tomando o nome da figura que o selo imprime na cera (Dióg. L., VII, 45). Cícero procurou eliminar o caráter físico da impressão (Tusc, I, 61). Esse termo foi difundido na filosofia e na linguagem moderna por Hume, que entendeu por impressão “todas as nossas sensações, paixões e emoções, em sua primeira aparição na alma” (Treatise, 1,1,1). E distinguiu as impressão das ideias, que são cópias empalidecidas delas (Ibid., I, 1, 2). [Abbagnano]
SÓCRATES
A memória, unida às sensações, e as paixões (παθήματα [pathemata]) que dela dependem, parecem-me quase estar escrevendo palavras nas nossas almas; e quando esta paixão escreve verazmente, se produzem dentro de nós opiniões e discursos verdadeiros; mas quando o escriba interior escreve o falso, o resultado é contrário ao verdadeiro.
PROTARCO
Sou inteiramente da tua opinião, e aceito o que acabas de dizer.
SÓCRATES
Então aceita também a presença, ao mesmo tempo, em nossa alma, de um outro artista.
PROTARCO
Quem?
SÓCRATES
Um pintor que, depois do escriba, desenha na alma as imagens das coisas ditas.
PROTARCO
Mas, como e quando?
SÓCRATES
Quando um homem, após ter recebido da visão ou de qualquer outro sentido os objetos da opinião e dos discursos, vê de algum modo dentro de si as imagens destes objetos. Não é assim que acontece? [Platão, Filebo 39a]
O artista que desenha na alma as imagens (εἰκόνας [eikonas]) das coisas é, na passagem de Platão, a fantasia, e tais “ícones” são definidos depois como “fantasmas” (φαντάσματα [phantasmata]) (40a). O tema central do Filebo não é, porém, o conhecimento, mas o prazer, e se Platão lembra ali o problema da memória e da fantasia, isso se deve ao fato de estar preocupado em demonstrar que desejo e prazer não são possíveis sem essa “pintura na alma”, e que não existe algo parecido com um desejo puramente corpóreo. Desde o início da nossa investigação, graças a uma intuição que antecipa de maneira singular a tese de Lacan, segundo a qual “le phantasme fait le plaisir propre au désir”,[A afirmação de Lacan (“o fantasma toma o prazer próprio do desejo”) pode ser lida em Kant avec Sade, em: Écrits. Paris, 1966, p. 773.] o fantasma situa se, portanto, sob o signo do desejo, e este é um aspecto que não convém esquecer.
Em outro diálogo, Platão explica a metáfora da “pintura interior” [133] com outra metáfora, cuja descendência se tornaria tão fecunda a ponto de ainda ser lícito escutar seu eco na teoria freudiana da impressão mnemônica:
Suponha que há na nossa alma uma cera impressionável, em alguns mais abundante, em outros menos, mais pura em alguns, mais impura noutros; e em alguns mais dura, e noutros mais mole, e noutras ainda de um jeito intermediário… É um dom, digamos, da mãe das Musas, Mnemósine: tudo que desejamos conservar na memória daquilo que vimos ou ouvimos ou concebemos imprime-se nessa cera que apresentamos às sensações ou às concepções. E do que se imprime em nós, conservamos memória e ciência enquanto durar sua imagem (τὸ εἴδωλον [eidolon]). O que fica cancelado ou não conseguimos imprimir o esquecemos, e disso não temos conhecimento. [Teeteto, 191 d-e]
A história da psicologia clássica é, em boa parte, a história destas duas metáforas. Ambas estão presentes em Aristóteles, mas são tomadas, de certa forma, ao pé da letra e inseridas em uma teoria psicológica orgânica, em que o fantasma cumpre uma função muito importante, sobre a qual viria a exercer-se com especial vigor o esforço exegético medieval. No De anima (424a), o processo da sensação é resumido da seguinte forma:
Em geral, para toda sensação, convém considerar que o sentido é feito para receber as formas sensíveis, sem a matéria, assim como a cera recebe a marca (σημεῖον [semeion]) do anel sem o ferro ou o ouro… De modo semelhante, todo sentido sofre a ação daquilo que tem cor ou sabor ou som…
No De memoria (450a), esta marca é definida como um desenho (ζωγράφημα [zographema]): [134]
A paixão produzida pela sensação na alma e na parte do corpo que possui a sensação é algo parecido com um desenho… O movimento que se produz imprime uma espécie de marca da coisa percebida, assim como fazem aqueles que deixam um carimbo com o anel.
O mecanismo da visão é concebido por Aristóteles em polêmica com quem a explicava como um fluxo que vai do olho ao objeto, como uma paixão que a cor imprime no ar e que do ar acaba transmitida para o olho, em cujo elemento aquoso ela se reflete como em um espelho.
O movimento, ou paixão, produzido pela sensação é posteriormente transmitido para a fantasia, que pode produzir o fantasma inclusive na ausência da coisa percebida (De anima, 428a). Não é fácil determinar o que é essa parte da alma onde os fantasmas têm seu domicílio, e o próprio Aristóteles confessa que se trata de um “problema sem saída” [πολλήv ἀπορίαν pollen aporian]: De anima, 432b], mas certamente Aristóteles é dos primeiros a teorizá-la explicitamente como atividade autônoma: “aquilo através do qual se produz em nós o fantasma” (428a). Depois de ter afirmado que ela é diferente da sensação, pois os fantasmas se produzem mesmo na ausência das sensações, assim como ocorre quando mantemos os olhos fechados, e que não é possível identificá-la com as operações que sempre são verdadeiras, como a ciência e a intelecção, pois pode ser igualmente falsa, ele conclui (429a):
Se, pois, nenhuma outra coisa, a não ser a imaginação, dispõe das características listadas, e ela é precisamente aquilo que se disse, então a imaginação será um movimento produzido pela sensação que chegou à realização. E, já que a visão é o sentido por excelência, a imaginação (φαντασία [phantasia]) inclusive emprestou o nome da luz (φάος [phaos, phos]), pois sem luz não se pode ver. Porque os fantasmas persistem e são semelhantes às sensações, os [135] animais realizam muitas ações, pautando-se neles, uns porque não têm intelecto, como os animais selvagens, outros porque o têm às vezes obscurecido por paixões, por doença ou por sono, como acontece com os homens. [AgambenE:133]