Filosofia – Pensadores e Obras

imitação

VIDE estética

(do lat. imitatio, e no gr. mimesis).

Chamavam os pitagóricos de mimesis (imitação), a cópia que as coisas procediam dos arithmoi (números) que eram as realidades essenciais e superiores, copiadas por aquelas. Foi partindo da ideia da mimesis, que Platão alcançou a da metexis, da participação, pois as coisas são, de certo modo, imitações das ideias. Tanto a doutrina dos pitagóricos como a de Platão foram combatidas por Aristóteles, embora admitisse este que a imitação, já do ângulo psicológico, fosse característica do homem. Mas é modernamente no sentido psicológico e antropológico que a imitação foi plenamente desenvolvida e estudada. A imitação é um fenômeno próprio do ser vivo. Biólogos e psicólogos dedicaram-se ao seu estudo nos vegetais, nos animais e no homem, quer individual como socialmente manifestada. Gabriel Tarde, por ex., defende a tese de que a imitação é mais fundamental nos fatos sociais que a invenção, que é de origem individual. Tem a imitação um grande papel na vida social, como na vida estética, onde nos fenômenos de endopatia estética e simpatia estética, há manifestações imitativas, não só na Einfuhlung, na endopatia vivencial do conteúdo estético de uma obra de arte, como na ligação entre espectador e artista. Vide participação. [MFSDIC]


Os pitagóricos chamavam imitação ao modo como as coisas se relacionavam com os números considerados como as realidades essenciais e superiores que aquelas imitam.

Aristóteles criticou esta doutrina na METAFÍSICA declarando que não há diferença essencial entre a teoria pitagórica da imitação e a teoria platônica da participação.

Esta noção de imitação é predominantemente metafísica. Pode entender-se o conceito de imitação num sentido predominantemente estético, como sucede em parte com Platão e totalmente com Aristóteles. Em O SOFISTA Platão definiu a imitação como uma espécie de criação, quer dizer, como uma criação de imagens e não de coisas reais, pelo que a imitação é uma criação humana e não divina. Em AS LEIS dilucidou as ideias que a imitação de algo deve cumprir: de que seja imitação, se é verdadeira, se é formosa. Particularmente importantes são as passagens do livro décimo de A REPÚBLICA onde indica que quando um artista pinta um objeto, fabrica uma aparência deste objeto, mas como em rigor não pinta a essência ou a verdade deste objeto, mas a sua imitação na natureza, a imitação artística passa a ser uma imitação dupla: a imitação de uma imitação. Por isso a arte da imitação não aflora mais que um fantasma, simulacro ou imagem da coisa. Com o que verificamos que Platão nunca abandonou na sua doutrina estética a sua teoria da imitação metafísica.

Aristóteles, em contrapartida, dilucidou o problema da imitação no campo da poética. Segundo ele, as artes poéticas (poesia, épica e tragédia, comédia poesia ditirâmbica, música de flauta e lira, são, em geral, modos de imitação (POÉTICA). o imitador ou artista representa sobretudo ações com agentes humanos bom ou maus, havendo tantas espécies de artes como maneiras de imitar as diversas espécies de objetos.

A doutrina estética da imitação exerceu considerável influência até bem entrado o século dezoito. Na época contemporânea tem sido frequentemente elaborado sobre uma base psicológica. Além disso, os aspectos psicológicos, sociológicos e biológicos da imitação têm alcançado um predomínio cada vez mais acentuado sobre o aspecto estético. [Ferrater]


O conceito da imitação, porém, só consegue descrever o jogo da arte, se não se perder de vista o sentido do conhecimento, que se encontra na imitação. Aí, encontra-se o que é representado — é a relação mímica originária. Quem imita alguma coisa deixa isso ser aí o que ele conhece e como o conhece. É imitando que a criança começa a brincar, fazendo o que [119] conhece e confirmando assim a si mesma. Também o prazer com que as crianças se fantasiam, a respeito do que já se manifesta Aristóteles, não pretende ser um esconder-se, uma simulação, a fim de que se adivinhe e se reconheça quem está por trás disso, mas, ao contrário, um representar, de tal modo que apenas o representado é. Por nada desse mundo a criança vai querer ser adivinhada por trás de sua fantasia. O que ela representa deve ser, e se há algo que deva ser adivinhado, é exatamente isso. Terá de ser reconhecido o que ali “está”. [GadamerVM:2.1.2]