Filosofia – Pensadores e Obras

honra

(gr. time; in. Honor; fr. Honneur, al. Ehre; it. Onoré).

Toda manifestação de consideração e estima tributada a um homem por outros homens, assim como a autoridade, o prestígio ou o cargo de que o reconheçam investido. Os antigos consideravam a honra como um dos bens fundamentais da vida social; Aristóteles reconheceu que há uma virtude em relação à honra assim como há uma virtude (liberalidade) em relação ao dinheiro. Essa virtude é a magnanimidade , cujo excesso é a ambição e cuja deficiência é a pusilanimidade (Et. Nic, II, 7,1107b 20). Essa grande importância atribuída à honra, considerada “o prêmio da virtude e do bem fazer” (Ibid., VIII, 14, 1163 b 3), provém da ética grega, da qual passou para os costumes e o direito da tradição ocidental, em sua formulação aristocrática. No mundo moderno, a “respeitabilidade” é o análogo desse antigo conceito. E óbvio, todavia, que “o bem fazer” (energesia) — cujo prêmio, segundo Aristóteles, deveria ser a honra, além de sê-lo para a virtude — inclui boa dose de conformismo aos preconceitos dominantes no grupo ou na classe social que confere a honra e ao análogo moderno da honra a respeitabilidade, não incluída uma dose menor de conformismo. Portanto, não é de surpreender que a honra tenha frequentemente sugerido e continue sugerindo ações imorais, maléficas, ou verdadeiros delitos, tanto na vida privada quanto nas relações entre os povos, em que a honra muitas vezes desempenha papel predominante no nascimento e na perpetuação de conflitos. [Abbagnano]


Segundo Aristóteles, a honra é um sinal exterior do reconhecimento de alguma preeminência noutrem, manifestativo do alto apreço íntimo por sua pessoa. Este apreço íntimo, também denominado respeito, é em si mais importante que a ação isolada de honrar externamente. Normalmente, a honra pressupõe um verdadeiro mérito de pessoa honrada. 0 objeto mais excelente da honra é a probidade moral, a honorabilidade, a honradez, a honra interna, hoje com frequência denominada simplesmente honra. Quando alguém encontra alto apreço moral num vasto círculo de pessoas criteriosas, goza de boa fama, de bom nome. A honra e a boa reputação são bens importantes para o esforço moral do indivíduo e para a vida social, visto serem as bases da confiança mútua. Pelo que, é lícito, e mesmo necessário, aspirar ordenadamente à honra e ao bom nome. O amor à honra, baseado na honestidade absoluta, é uma virtude moral. Dentro de limites razoáveis, a moral permite, outrossim, o desejo ordenado de granjear para si maior honra e boa reputação (glória), à base de obras e de riscos notáveis: é o brio ou a galhardia. — Da mencionada importância do bom nome deriva a obrigação, não só de não lesar o do próximo com falsos testemunhos (calúnia), como também de não menoscabá-lo, revelando sem necessidade faltas verdadeiras mas ocultas (detração). Os limites do desejo de honra e distinção brotam da natureza do homem como criatura de Deus, como ente social, e finalmente como ente falível e defeituoso. Deus é a fonte de todos os valores, pelo que a Ele primeiramente e principalmente são devidas honra e glorificação. Vai de encontro à honorabilidade interna e ao verdadeiro amor da honra quem se arroga méritos que não possui ou pretende ser honrado de maneira exclusiva. Também o próximo tem e merece sua honra. Enfim, a lealdade e a honradez exigem que reconheçamos sinceramente, perante Deus e a sociedade, não só a falibilidade própria, como também as faltas reais e numerosas que cometemos. Por esta forma, a aspiração à honra fica preservada de seu excesso, o orgulho (hybris), da arrogância, da ambição desmedida e da vã cobiça de glória. A humildade refreia, mas não tolhe, o amor da honra. Ela é a vontade de manter-se enquadrado na ordem hierárquica dos seres espirituais determinada por Deus. A humildade não é sentimento vil, nem indiferença perante o legítimo amolda honra. O humilde quer evitar as pretensões exageradas da honra, precisamente porque reverencia em si e nos outros a imagem viva de Deus. A humildade e a generosidade radicam-se na mesma camada profunda da alma. Quando a humildade é qualificada de desprezo de si mesmo, o objeto deste desprezo é o eu falível e cometedor de faltas, não o eu prendado por Deus, e que é sua imagem. Um dos mais importantes deveres da educação moral consiste em despertar, fomentar e cuidar um delicado e moderado sentimento da honra. — Schuster. [Brugger]