Filosofia – Pensadores e Obras

escola

A palavra skholé hoje significa ócio, estar livre de negócios, tempo livre, lazer. Em latim se diz então otium. O contrário do otium é nec-otium (non-otium), donde vem a palavra negócio. Skholé vem do verbo skhein, ekhó, e significa propriamente ater-se, estar no vigor da atinência. Portanto, originariamente tanto skholé como otium não se referem à folga da ociosidade nem ao descanso, mas sim ao modo de trabalho intenso de engajamento no crescimento da autoidentidade, não obrigado de fora, não escravizado por lucro, medo, ganância ou pelo poder dominador do outro, mas livremente, assumido como exercício da criatividade humana na autonomia da sua liberdade. Esse modo de trabalhar mais tarde deu origem ao trabalho criativo das assim chamadas profissões livres, e caracterizou no Ocidente o vigor e a força dos estudos universitários na construção da humanidade livre, universal (cf. o espírito “missionário” da Aufklärung-Iluminismo). Esse modo de ser é o que está no fundo de todo o elã da existência científica de hoje, mesmo que na sua realização haja defasagens e desvios, esquecimentos da compreensão essencial do que seja a vigência das ciências. [Harada]


Como não vemos qualquer possibilidade de comutação da pena de trabalhos forçados a que nos condenaram por toda a vida, aspiramos, ansiosos, a que o «sistema» se aperfeiçoe, ou então, a que mude o sistema, mas, em qualquer dos casos, a divisa será «trabalho para todos», e aí temos a hilariante situação das Escolas Superiores, querendo marcar passo com o andamento do mercado de trabalho. Mas, assim, onde fica a escola, cujo sentido etimológico é o de «lazer», e o superior com que se pretende, e mais não se pode pretender, do que assinalar a «maior altura»? Evidentemente que esta só poderá ser a «maior altura na escala dos conhecimentos tecnológicos», a «maior altura na gradação de líderes do trabalho coletivo», em suma, a «maior altura de um sacerdócio da utilidade imediata». Que pode fazer a Escola Superior por quem não se sente atraído senão pelo «saber por amor do saber»? Mas que blasfêmia eu disse? Não atraí uma matilha de cães raivosos, correndo no meu encalço? A alegria de entrever ou julgar entrever o princípio de todas as coisas é uma bofetada no rosto dos utilitaristas, dos imediatistas, dos oportunistas, dos «lutadores pela vida». E esses não irão oferecer-me a outra face. Não descansarão sem que me vejam bem aferrolhado numa masmorra da nova inquisição dos fins que cada um persegue na vida. [EudoroMito:118]