Filosofia – Pensadores e Obras

cômico

(gr. geloion; lat. Comicus; in. Comia; fr. Comique; al. Komisch; it. Comico).

O que provoca o riso, ou a possibilidade de provocá-lo, através da resolução imprevista de uma tensão ou de um conflito. A definição mais antiga do cômico é de Aristóteles, que o considerou “algo de errado e feio, que não causa dor nem dano” (Poet., 5,1449 a 32 ss.). O “errado” como caráter do cômico significa o caráter imprevisto, porque irracional, da solução apresentada pelo cômico para um conflito ou uma situação de tensão. Essas ideias permaneceram substancialmente inalteradas na história da filosofia. Hobbes insistiu no caráter inesperado do cômico e vinculou-o à consciência da própria superioridade (De bom., XII, § 7). Kant reduziu o cômico à tensão e, portanto, à sua solução inesperada: “Em tudo o que é capaz de provocar uma explosão de riso, deve haver algo de absurdo (em que, portanto, o intelecto por sisi mesmo não pode achar nenhum prazer). O riso é uma afeição que deriva de uma espera tensa que, de repente, se resolve em nada. É precisamente essa resolução, que por certo nada tem de jubiloso para o intelecto, que alegra indiretamente, por um instante e com muita vivacidade” (Crít. do Juízo, § 54). O Iluminismo viu no cômico e no riso que o exprime um corretivo contra o fanatismo, considerando-o a manifestação do “bom humor” que Shaftesbury considerava o melhor modo de corrigir o fanatismo (Letteron Enthusiasm, II). Hegel, ao contrário, considerava-o expressão da posse satisfeita da verdade, da segurança que se sente por estar acima das contradições e por não estar numa situação cruel ou infeliz. Em outros termos, identificava-o com a felicidade segura, que pode até suportar o fracasso de seus projetos. E nisso ele o distinguia do simples risível, em que via “a contradição pela qual a ação se destrói por si e o objetivo se anula realizando-se” (Vorlesungen über die Ästhetik, ed. Glockner, III, p. 534). Essa noção hegeliana de cômico, no entanto, é uma idealização romântica do fenômeno, mais do que uma análise objetiva, é a exageração do sentimento de superioridade que Aristóteles já observara no cômico, quando considerou a comédia como “imitação de homens ignóbeis” (Poet., 5, 1448, 32). A noção tradicional do cômico é reafirmada pela análise de Bergson (Le rire, 1900), que até hoje é considerada a mais rica e precisa. Ele nota que o cômico é obtido quando um corpo humano faz pensar em um mecanismo simples, quando o corpo prevalece sobre a alma, quando a forma sobrepuja a substância e a letra o espírito, ou quando a pessoa dá a impressão de coisa; todos estes são casos em que o cômico está na frustração de uma expectativa através de uma solução imprevista ou, como teria dito Aristóteles, errada. O mesmo se pode dizer do cômico das situações ou das expressões, que existe quando uma situação pode ser interpretada de dois modos diferentes ou pela equivocidade das expressões verbais; por isso, é sempre um erro, uma solução irracional dada a uma expectativa de solução. Bergson também atribui ao cômico um poder educativo e corretivo. “O rígido, o já feito, o mecanismo em oposição ao ágil, ao que é perenemente mutável, ao vivo, a distração em oposição à previsão, enfim o automatismo em oposição à atividade livre, eis o que o riso destaca e gostaria de corrigir” (Ibid., cap. II, no fim). [Abbagnano]