Filosofia – Pensadores e Obras

caracterologia

(fr. Caractérologie; al. Charakterologie ou Charakterkunde; it. Caratterologia).

Termo que entrou em uso na segunda metade do século passado para indicar a ciência do temperamento ou do caráter. Cf. caráter; etologia. [Abbagnano]


O estudo dos caracteres. — O termo foi criado por Wundt. A caracterologia estuda a classificação e a formação dos caracteres. A classificação é feita com o auxílio de testes, isto é, de provas; o mais conhecido, o teste de Rorschaach, consiste em comprimir manchas de tinta entre duas folhas e perguntar o que evocam essas manchas. Utilizando testes extremamente complexos, Wierzma e Heymans estabeleceram a classificação mais célebre. Ela se fundamenta sobre: 1.° a emotividade; 2.° a atividade; 3.° a primariedade ou a secundariedade (o primário é o que vive no momento atual, o secundário é aquele no qual as experiencias deixam um traço e uma ressonância profunda e que, por isso, está sempre contido pela experiência passada). Muito generalizadamente podemos distinguir os caracteres “introvertidos” (voltados para si próprios) e “extrovertidos” (loquazes e abertos para o mundo, no limite sem qualquer interioridade). Por exemplo, aquele que, à vista de um quadro ou de um espetáculo do mundo, é particularmente sensível ao “movimento” manifesta tipo “introvertido” com tendência esquizóide (por exemplo, o quadro dos ciprestes de Van Gogh presta-se particularmente para essa interpretação); aquele que é sobretudo sensível à “cor” é do tipo “extrovertido”; aquele que assinala sobretudo a “forma” das coisas exprime um tipo de inteligência erudita, melancólica. O tipo equilibrado será igualmente sensível ao movimento, à forma e à cor (como Leonardo da Vinci). A oposição entre introvertido e extrovertido é, no fundo, a que existe entre o literário e o científico. [Larousse]


Caracterologia ou ciência do caráter é a ciência que tem por objeto a essência, gênese e formas estruturais do caráter. Entendemos por caráter um conjunto de disposições herdadas e de tendências adquiridas, o qual, sem ser rígido e imutável, possui relativa estabilidade e consistência e serve de base às peculiaridades pessoais das vivências (vivência), das apreciações valorativas e das volições de um ser humano. Uma vez que a maneira pessoal de apreciar condiciona a peculiaridade formal do querer e suas direções teleológicas preferidas, podemos também definir o caráter como “sistema pessoal de máximas valorativas” (Allers). Segundo a natureza ética do conteúdo axiológico daquelas direções, distinguem-se um caráter eticamente bom e outro eticamente condenável; segundo a firmeza, harmonia e constância da estrutura do carácter, haverá um caráter formalmente enérgico e um carácter formalmente fraco ou lábil, seja qual for o conteúdo ético da orientação teleológica.

A caracterologia analisa as disposições e inclinações reativas individuais, próprias dos elementos constitutivos do carácter, em sua relação com o vinco característico da personalidade. Classifica, em segundo lugar,. as várias formas típicas do caráter e, em terceiro lugar, põe a questão das leis genéticas do caráter e da possível reforma do mesmo. — Na classificação dos tipos (VIDE tipo), toma-se como ponto de partida ou a diversidade de domínios axiológicos objetivos, para os quais os diversos caracteres se inclinam preferentemente (“formas de vida” de Spranger, “psicologia das mundividências” de Jaspers), ou, de preferência, a peculiaridade formal subjetiva das estruturas caracterológicas, p. ex., a maior ou menor harmonia e unidade das disposições e inclinações estáveis (doutrina de E. Jaensch sobre as estruturas integradas e desintegradas), ou a atitude constante dos interesses vitais orientada preponderantemente para o exterior ou para o próprio mundo interior (tipo extrovertido e introvertido de C. S. Jung; distinção estatuída por Häberlin entre tipo em que predomina o impulso egocêntrico e o tipo com predomínio da espiritualidade sustentadora da comunidade). Partindo da observação psiquiátrica das grandes psicoses (esquizofrenia e enfermidade maníaco-depressiva ou cíclica da vida afetiva (Doença mental), E. Kretschmer descreve, dentro do campo da vida psíquica normal, as personalidades esquizotímicas e as ciclotímicas, mostrando, ao mesmo tempo, a correlação (não geral, mas ampla) entre a estrutura psíquica dos caracteres e a constituição atlética ou leptossômica (delgada) e pícnica (baixa e arredondada) dos tipos correspondentes.

Na questão relativa às condições genéticas do carácter discrepam entre si as teorias fisiológicas e as psico-genéticas. As primeiras buscam, de modo exclusivo ou predominante, as causas da forma do caráter na constituição somática hereditária. Por essa forma, chegam, em parte, a doutrinas materialistas e deterministas (p. ex. doutrina de Lombroso sobre o “criminoso nato”; interpretações de J. Lange, que apresentam o caráter hereditário como um destino). As teorias psicogenéticas, vêem no próprio psíquico, na auto-fomação consciente ou inconsciente, o mais importante princípio formativo do caráter (psicanálise de Freud e “psicologia individual” de Adler). O fato de acentuarem energicamente a importância da influência do meio ambiente e da educação orientada para a vontade de viver, individual e social, oferece muitos vah”res pedagógicos. Contudo ambos sistemas pecam pelo defeito de considerar exclusivamente umvalor fundamental, bem como pela orientação determinista de seus fundadores. A hodierna caracterologia, que se inspira na psicologia da profundidade, toma e elabora o que naqueles dois sistemas há de mais justo, sublinhado, porém, mais fortemente o papel que na auto-formação do caráter é desempenhado por um terceiro fator, a saber, pela orientação subordinada ao dever (obrigação) e às normas objetivas e absolutas do ser humano (Bovet, V. Frankl).

Uma consideração isenta de exclusivismos tomará na devida conta tanto os fundamentos biológicos condicionados pela hereditariedade quanto os fatores psíquico-individuais e sociais da formação do caráter. Certas peculiaridades formais da contextura da personalidade e de suas formas reativas condicionam fatalmente o caráter-hereditário; a este, no decurso da vida, pode vir sobrepor-se a estrutura das disposições adquiridas, sem que, por isso, ele abandone sua própria natureza, capaz de novamente aflorar à tona. Embora as propriedades do caráter hereditário, fundadas na massa hereditária limitem até certo ponto a ulterior evolução do caráter em suas maneiras formais de reagir, contudo em nenhum caso determinam as direções teleológicas da vontade pessoal, restando normalmente amplo lugar para a educação, auto-educação e responsabilidade.

Do ponto de vista filosófico, a caracterologia é importante, porque nos situa ante múltiplas questões de ordem filosófica, tais como: relação entre corpo e alma, unidade do psíquico na multiplicidade de suas disposições, a priori psicológico de apreciações e de modos de pensar, livre arbítrio e obstáculos da vontade, responsabilidade pessoal, influxo da vida social, etc. — Willwoll. [Brugger]


Disciplina psicológica, que se dedica ao estudo dos caracteres humanos.

Como ciência psicológica, o objeto da Caracterologia é a gênese das formas estruturais e análise do que constitui propriamente o caráter. Caráter vem do termo grego karasein, que significa imprimir, cunhar, marcar, e compreende o temperamento ou o conjunto das disposições intelectuais e afetivas, herdadas ou adquiridas, que o constituem. Deste modo, caráter é o que marca a personalidade, é o que confere à personalidade o seu traço fundamental, e indica a sua maneira de operar e também de classificar os valores. Por isso se pode falar em bom ou mau carácter. Como ciência investigadora do carácter, examina as diversas reações, as bases psíquicas do mesmo, bem como classifica, em tipos, as personalidades que revelam ter entre si certas semelhanças e, ademais, propõe-se estudar as leis genéticas do caráter e as possíveis reformas que o mesmo possa sofrer. Há muitas classificações caracterológicas, e por ser uma ciência ainda em seus primórdios, não tem oferecido soluções duradouras, senão em raros aspectos. [MFSDIC]