Filosofia – Pensadores e Obras

Cabanis

CABANIS (Georges), médico e filósofo sensualista francês (Cosnac, Limousin, 1757 — Rueil, com. de Seraincourt, 1808). Foi o primeiro escritor francês que tratou metodicamente das relações entre o físico e o moral, no célebre Tratado do físico e do moral do homem (1802), que exerceu considerável influência sobre as ideias e a atmosfera intelectual de seu tempo. [Larousse]


Cabanis (Pierre) (1757-1808), embora filiado ao movimento dos ideólogos, tem sido apresentado discutido e comentado, de forma muito parcial, em grande parte distante de sua verdadeira doutrina. Façamos uma síntese de suas opiniões:

a) Cabanis tem sido apresentado como um materialista, que quis submeter toda análise psicológica à fisiológica, desejando resolver os problemas das faculdades e dos atos, com exclusão de qualquer suposto metafísico. Para Cabanis, seria o pensamento apenas o produto da atividade cerebral.

b) Pela leitura de sua obra, Cabanis nos oferece outras conclusões: admirava a obra dos sensualistas Hob-bes, Locke, Helvetius e Condillac, mas deplorava que este não tivesse suficientes conhecimentos fisiológicos.

c) o físico e o moral confundem-se em suas fontes; isto é, o moral não é mais que o físico considerado sob determinados pontos de vista particulares;

d) influenciado pelos ideólogos, afirma: as impressões recebidas pelos órgãos são igualmente a fonte de todas as ideias e de todos os movimentos. Cabanis não podia conceber um fato de atividade, sem um fato prévio de sensibilidade;

e) há para ele grande número de determinações absolutamente fora da experiência e da razão, que desnecessitam de educação, que atingem um alto grau de aperfeiçoamento, porque emanam de uma fonte distinta; isto é, o instinto;

f) não há apenas fenômenos físicos no homem. Ele espiritualiza o homem (Mémoire IV, § I) e afirma “aos elementos materiais da economia, junta-se um princípio desconhecido qualquer”;

g) há três escolas entre os fisiologistas durante o século de Cabanis: 1) a dos estritamente materialistas; 2) a dos que aceitam que além dos fenômenos físicos, há outra espécie de fenômenos vitais (vitalistas); 3) a dos que aceitam que aos fenômenos materiais, junta-se um princípio desconhecido qualquer, que eles chamam alma, arque, princípio vital. Entre estes, está Cabanis;

h) com seu contato com Fariel, Cabanis empreendeu estudos mais aprofundados em torno dos fenômenos psíquicos, e é nessa época que afirma que no inato da razão possui esta uma natureza não material, princípio este que não pode partilhar da dissolução da matéria orgânica. Esse princípio mental não é o resultado das ações das partes, uma propriedade ligada a uma combinação animal, mas uma substância, um ser à parte e distinto. Acreditando na imaterialidade e no inatismo do princípio da vida, crê, posteriormente, na imaterialidade e no inatismo do princípio da inteligência, porque o todo é um para ele, e, consequentemente, na preexistência desse princípio, após a morte. (Lettres, etc, 74). Essas proposições não são, porém, para Cabanis artigos de . Ele, através de sua obra, examinou os prós e os contras. E as palavras são dele: “Tais são os motivos que podem fazer pender a crença de um homem razoável em favor da persistência do princípio vital ou do eu, após a cessação dos movimentos vitais nos órgãos”. Mas, acreditou afinal: “Não esqueçamos que permanecemos aqui no terreno das probabilidades”.

Observe-se que Cabanis, por haver atribuído à natureza, inteligência e vontade, foi classificado de panteísta.

Vemos ainda que está muito longe de ser o materialista vulgar, tão frequentemente apresentado nos compêndios de filosofia. [MFS]