Os elementos gramaticais da enunciação são, nós o sabemos, o sujeito (S), a cópula (C) e o predicado (P). O sujeito e o predicado são os elementos materiais da enunciação, enquanto que a cópula, que representa um papel análogo ao da forma que determina a matéria, pode ser considerado como o seu elemento formal.
Considerada em sua unidade, a enunciação, expressão do julgamento, apresenta-se essencialmente como uma atribuição, praedicatio, quer dizer como a conjunção ou a disjunção de dois extremos, segundo haja ou não conveniência entre eles. “Pedro é musico”: quando eu pronuncio esta enunciação, eu atribuo a qualidade de “músico” (P) a “Pedro” (S) . O ponto de vista inteiramente formal visado pelo lógico no julgamento é, portanto, a relação de conveniência ou de não conveniência entre os dois termos, a qual fundamenta a atribuição efetiva.
Segundo a natureza desta relação, pode-se distinguir vários modos de atribuição. Quando o sujeito e o predicado são absolutamente semelhantes, tem-se a praedicatio identica ou atribuição do mesmo ao mesmo “o homem é homem”. Quando o sujeito e o predicado, apesar de convir um ao outro em um mesmo sujeito, não são formalmente idênticos, tem-se a praedicatio formalis: é a atribuição normal “o homem é um bípede”. Este segundo modo de atribuição se subdivide em praedicatio essentialis (per se) e em praedicatio accidentalis (per accidens), segundo o predicado convenha ao sujeito em razão de sua essência, necessariamente ou não (contingentemente).
A atribuição formal essencial, ou necessária, é evidentemente aquela que pode interessar ao lógico, porque da atribuição idêntica nada se pode tirar, e a atribuição acidental está fora da certeza científica. Tomás de Aquino, em seguida a Aristóteles (11 Anal., 1, 1. 10), analisa com cuidado esse tipo de atribuição e nele distingue vários modos, segundo o predicado exprima a própria essência do sujeito ou um elemento que se liga necessariamente a ela. É a famosa teoria dos quatuor modi dicendi per se (não se diz praedicandi, porque somente três destes modos podem ser atribuídos).
O primeiro modo, primus modus dicendi per se, corresponde ao caso em que o predicado pertença à própria essência do sujeito, seja exprimindo-a totalmente (definição: o homem é animal racional”), seja exprimindo-se somente em parte: “o homem é animal”, “o homem é racional”.
O segundo modo, secundus modus dicendi per se, corresponde ao caso em que o predicado exprime uma propriedade da essência: “o homem têm o poder de rir”.
O terceiro modo, tertius modus dicendi per se, não é, como observa Tomás de Aquino, um modo de atribuição mas de existência: é a designação do modo de realidade da substância que existe por si própria e não em um outro e não pode, por este fato, ser atribuída a nenhum outro: “Pedro”.
O quarto modo, quartus modus dicendi per se, temi ligação com a relação de causalidade eficiente; o predicado, ou antes, o verbo predicado, exprime a causalidade própria do sujeito que lhe é assim atribuído: “o pintor pinta”, ” o médico cura”.
Além dessa relação dos modos de predicação, Tomás de Aquino, observando que um conceito pode ser tomado concretamente “homem”, ou abstratamente “humanidade”, estabeleceu as regras a aplicar quando o sujeito e o predicado são concretos ou abstratos. Pode-se dizer, por exemplo: “o homem é animal”, “a humanidade é animalidade”, mas não “o homem é a animalidade”. Entretanto, é correto dizer-se: “Deus é sua divindade”. [Gardeil]