De arte, maneira de fazer uma coisa segundo regras. Mais particularmente, desde o séc. XIX, expressão através da criação estética: belas-artes. — O problema filosófico mais geral é o da função da arte:
1.° Inicialmente pensou-se que era a de exprimir a “beleza”. Ora, o que é a beleza? Uma tal noção pode ter valor objetivo ou depende, ao contrário, do julgamento pessoal de cada um? Uma coisa é bela porque eu a julgo bela, ou eu a julgo bela porque ela é realmente bela? De Platão a Kant, os filósofos procuraram fundamentar a objetividade da arte e da beleza. O belo, dizia Kant, é “o que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente”; e correlativamente pensou-se que existia uma “beleza em si”, um ideal universal, do qual as obras de arte devem se aproximar na medida do possível. Essa concepção clássica da arte insistia sobre certas características dominantes, como a harmonia, a pureza, a nobreza, a serenidade, a elevação dos sentimentos. Uma ma-dona de Rafael, um sermão de Bossuet, um edifício de Mansart, uma sonata de igreja dão bem a ideia de uma tal concepção. A função da arte era de idealizar a realidade;
2.° A história da arte nos conduz de fato a dissociar a beleza de uma obra de arte da representação de uma coisa bela. A arte pode ser bela e evocar a carniça (Bau-delaire), o vil (la Goulue de Toulouse-Lautrec), o grotesco (o Anão de Velasquez), o horrível (Bosch). Sua função é a de nos revelar o que Malraux denomina a “parte noturna do mundo”, aquela que escapa ao nosso olhar cotidiano e que as conveniências ou as tradições sociais nos impedem de ver. Goya denunciava a representação do belo como uma “mentira” e uma “cegueira”. De acordo com uma concepção mais moderna, a arte é eminentemente realista: sua função não é a de exprimir a beleza, mas a de bem exprimir o real.
Em conclusão, assinale-se que hoje substitui-se a noção de “beleza” pela de “autenticidade”; o que uma obra exprime de maneira autêntica possui realidade independente de nós: as obras de Van Gogh exprimem uma certa visão trágica do mundo; podemos não ter vontade de olhar um Van Gogh, mas não podemos pretender que o trágico não exista em suas obras. Nesse sentido é que a obra de arte possui uma realidade objetiva independente da sensibilidade de cada um. (V. estética, abstrato, belas-artes.) [Larousse]