Filosofia – Pensadores e Obras

anarquismo

(in. Anarchism; fr. Anarchisme; al. Anarchismus; it. Anarchismó).

Doutrina segundo a qual o indivíduo é a única realidade, que deve ser absolutamente livre e que qualquer restrição que lhe seja imposta é ilegítima; de onde, a ilegitimidade do Estado. Costuma-se atribuir a Proudhon (1809-65) o nascimento do anarquismo Sua principal preocupação foi mostrar que a justiça não pode ser imposta ao indivíduo, mas é uma faculdade do eu individual que, sem sair do seu foro interior, sente a dignidade da pessoa do próximo como a sua própria e, portanto, adapta-se à realidade coletiva mesmo conservando a sua individualidade (A Justiça na revolução e na Igreja, 1858). Proudhon desejaria que o Estado fosse reduzido à reunião de vários grupos formados, cada um, para o exercício de uma função específica e depois reunidos sob uma lei comum e um interesse idêntico (Justice, I, p. 481). Esse ideal pressupõe a abolição da propriedade privada que, num texto célebre (O que é a propriedade?, 1840), ele definia “um furto”. No domínio da filosofia, o maior teórico do anarquismo foi Max Stirner (pseudônimo de Kaspar Schmidt, 1806-56), autor de uma obra intitulada O único e a sua propriedade(1845). A tese fundamental de Stirner é que o indivíduo é a única realidade e o único valor, logo é a medida de tudo. Subordiná-lo a Deus, à humanidade, ao Estado, ao espírito, a um ideal qualquer, seja embora o do próprio homem, é impossível, pois o que é diferente do eu individual e se lhe contrapõe, é um fantasma do qual ele acaba escravo. Desse ponto de vista, a única forma de convivência social é a associação desprovida de qualquer hierarquia, da qual o indivíduo participa para multiplicar a sua força, mas que para ele é apenas um meio. Essa forma de associação pode nascer tão-somente da dissolução da sociedade atual, que, para o homem, é o estado de natureza, e pode ser somente o resultado de uma insurreição que consiga abolir todas as constituições estatais. No caráter revolucionário do anarquismo depois insistiram os anarquistas russos, dos quais o maior foi Mikhail Bakunin (1814-96), autor de numerosos livros entre os quais um intitulado Deus e o Estado (1871), em que afirma a necessidade de destruir todas as leis, instituições e crenças existentes. A tese anarquista da contraposição nítida e radical entre todas as ordens políticas e sociais existentes, consideradas como o próprio mal, e a nova ordem libertária futura, considerada como o bem total, foi reapresentada por G. Landauer (Die Revolution, 1923). (Sobre ele cf. K. Mannheim, Ideologia und Utopie, 1929, IV, § 1; trad. it., p. 194 ss.). [Abbagnano]