Kierkegaard (P) – Ou/Ou

Uma escolha! Sabes, meu ouvinte, como expressar em uma única palavra nada mais magnificente? Dás conta, mesmo se fosses discutir ano sim ano não como poderia mencionar nada mais surpreendente que uma escolha, o que é ter uma escolha! Pois embora seja certamente verdade que a benção suprema é escolher certo, ainda assim a faculdade de escolher ela mesma é ainda o pré-requisito glorioso. De que importa ao jovem amante arrolar todas as qualidades que se sobressaem de sua noiva se ela mesma não pode escolher? E, por outro lado, se outros louvam as muitas perfeições de sua amada ou enumeram suas faltas, que coisa mais significante poderia ela dizer do que quando diz, Ele é a escolha de meu coração!

Uma escolha! Sim, esta é a pérola de grande valor, no entanto não é intenção que seja enterrada e ocultada. Uma escolha que não é usada é pior que nada; é uma arapuca na qual uma pessoa se prendeu a si mesma como um escravo que não se tornou livre — por escolha. É uma boa coisa que nunca podes te livrar dela. Permanece contigo, e se não a usas, se torna uma maldição. Uma escolhanão entre vermelho e verde, não entre prata e ouro — não, uma escolha entre Deus e o mundo! Sabes qualquer coisa de comparável para escolher? Sabes de qualquer expressão mais premente e humilde para a condescendência de Deus e sua extravagância para conosco seres humanos do que ele se colocar a ele mesmo, assim por dizer, no mesmo nível de escolha que o mundo, de tal modo que podemos ser capazes de escolher; que Deus, se a linguagem ousa falar assim, corteja a humanidade — que ele, o eternamente poderoso, corteja a tola humanidade? No entanto, quão insignificante é a escolha do jovem amante entre suas candidatas em comparação com esta escolha entre Deus e o mundo!

Uma escolha! Ora talvez seja uma imperfeição na escolha em discussão aqui que um ser humano não só pode escolher mas que ele deve escolher? Não seria em vantagem do jovem amante se ela tivesse uma pai zeloso que dissesse, «Minha querida filha, tens tua liberdade, tu mesmo pode escolher, mas deves escolher». Ou não seria melhor que ela tivesse a escolha mas timidamente optasse e optasse e nunca realmente escolhesse?

Não, uma pessoa deve escolher, pois desta maneira Deus mantém sua honra enquanto ao mesmo tempo tem uma preocupação paternal pela humanidade. Embora Deus tenha se abaixado a si mesmo para ser isso que pode ser escolhido, no entanto cada pessoa deve por sua parte escolher. Deus não é ludibriado. Portanto a questão se coloca assim: se uma pessoa evita escolher, isto é o mesmo que a presunção de escolher o mundo.

Cada pessoa deve escolher entre Deus e o mundo, Deus e Mamon. Esta é a condição imutável, eterna, de escolha que nunca pode ser evadida — não, nunca em toda eternidade. ninguém pode dizer, «Deus e mundo, não são, apesar de tudo, tão absolutamente diferentes. Pode-se combiná-los ambos em uma escolha». Isto é se impedir de escolher. Quando há uma escolha entre dois, então querer escolher ambos é justamente evitar a escolha «para sua própria destruição» (Heb 10,39). Ninguém pode dizer, «Pode-se escolher um pequeno Mamon e também Deus da mesma maneira». Não, é presunçosamente ridículo de Deus se alguém pensa só a pessoa que deseja grande riqueza escolhe Mamon. Enfim, a pessoa que insiste em ter um centavo sem Deus, que ter um centavo todo para sisi mesmo. Por conseguinte escolhe Mamon. Um centavo é bastante, a escolha está feita, ele escolheu Mamon; que seja pouco não faz a menor diferença.

O amor de Deus é ódio do mundo e o amor do mundo ódio de Deus. Este é o ponto colossal da contenção, ou amar ou odiar. Este é o lugar onde a mais terrível luta deve ser lutada. E onde é este lugar? No ser mais íntimo de uma pessoa. Se a luta é sobre milhões ou sobre um centavo, é uma questão de amar e preferir Deus — a luta mais terrível é a luta pelo mais alto. Que felicidade imensurável está prometida àquele que escolhe justamente. Se um qualquer é incapaz de compreender isto, a razão é que está relutante para aceitar que Deus está presente no momento da escolha, não a fim de supervisionar mas a fim de ser escolhido. Portanto, cada pessoa deve escolher. Terrível é a batalha, no ser mais íntimo de uma pessoa, entre Deus e o mundo. O supremo risco envolvido jaz na possessão da escolha.

O que quer que uma pessoa escolha, quando não escolhe Deus perdeu o ou/ou, ou melhor está em perdição com seu ou/ou. Portanto: ou Deus/… O que este ou/ou significa? What does God demand by this either/or? Ele demanda obediência, obediência incondicional. Se não estais obediente em tudo incondicionalmente, sem qualificação, não o amas, e se não o amas — então o odeias. Se não estais obediente em tudo incondicionalmente, então não estais ligado a ele, e se estais desligado dele então o desprezas.

Se podes se tornar absolutamente obediente, então quando ores, «Não nos deixai cair em tentação» não haverá ambiguidade em ti, estarás indiviso e único diante de Deus. E há uma coisa que toda a esperteza de Satã e todas as arapucas da tentação não podem tomar de surpresa — uma vontade indivisa. O que Satã espiona com agudez de vista enquanto como sua presa, o que toda tentação visa certamente de sua presa, é o ambíguo. Quando incerteza reside, há tentação, e aí se prova muito facilmente o mais forte. Onde quer que haja ambiguidade, onde quer que haja indecisão, há desobediência no fundo.

Onde há precisão, Satã e tentação são impotentes. Mas com o mero vislumbre de vacilação, Satã é forte e a tentação é incitadora, e astuto é o mal cuja arapuca é chamada tentação e cuja presa é chamada a alma humana. Certamente, não é realmente de Satã que a tentação vem, mas a ambiguidade não pode ocultar a si mesma dele. Se ele a descobre, a tentação está sempre à mão. Mas a pessoa que se rende absolutamente a Deus, sem reservas, está absolutamente segura. Deste esconderijo seguro pode ver o diabo, mas o diabo não pode vê-la. E se com absoluta obediência permanece em seu esconderijo, então é «livrada do mal».

um tremendo perigo no qual nos encontramos por ser humano, um perigo que consiste no fato que estamos colocados entre dois tremendos poderes. A escolha é deixada a nós, Devemos ou amar ou odiar, e não amar é odiar. Tão hostil são estes poderes que a mais leve inclinação para um lado se torna oposição absoluta ao outro. Não esqueçamos este perigo tremendo no qual existimos. Esquecer é ter feito tua escolha.

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