Harman2011
Mas de onde eu estou, parecem haver seis ideias que funcionam como pilares de Depois da Finitude e da filosofia de Meillassoux como um todo. Elas são listadas aqui em uma ordem diferente da do próprio autor:
A. O inimigo é o correlacionismo. Mas ele deve ser superado por dentro, não simplesmente descartado de maneira ingênua e realista.
B. Existe uma posição chamada correlacionismo forte que não escorrega para os excessos do idealismo absoluto, e que pode ser radicalizada em uma nova filosofia chamada materialismo especulativo.
C. Quando o correlacionismo forte é radicalizado, ele revela a verdade de que apenas uma coisa é necessária: a própria contingência.
D. A existência de um mundo anterior ou posterior no tempo a toda consciência humana representa um desafio intelectual maior do que a existência de coisas espacialmente remotas de toda consciência humana. Este é o tema da “diacronicidade”, a versão ampliada do que Meillassoux inicialmente chama de “ancestralidade”.
E. O fato de as leis naturais serem contingentes não exige que elas sejam instáveis. É aqui que a matemática transfinitária de Georg Cantor entra na filosofia de Meillassoux, de uma maneira ligeiramente diferente daquela como entra na de Badiou.
F. A distinção entre qualidades primárias e secundárias deve ser revivida, e as qualidades primárias de uma coisa são aquelas que podem ser matematizadas.
Não apenas Meillassoux apresentaria esses temas em uma ordem diferente, mas provavelmente nem mesmo escolheria exatamente estes como os pilares de seu livro. Em particular, o Ponto D é um que ele certamente consideraria um tanto trivial; ele nem mesmo é abordado na versão original francesa de seu livro. Mas, juntos, esses seis pontos são a base para uma das filosofias mais impressionantes a surgir no jovem século XXI. Eles também são suficientes para colocar Meillassoux em uma posição um tanto isolada, já que até mesmo seus colegas realistas especulativos concordariam apenas com a primeira metade do Ponto 1 e rejeitariam ou ignorariam os outros. Seu compromisso em seguir suas ideias aonde quer que elas levem o conduz à surpreendente doutrina de um mundo hipercaótico desprovido de toda necessidade, no qual as leis da natureza podem mudar a qualquer momento sem motivo algum, e no qual tanto a ética quanto a política dependem de um Deus virtual que nunca existiu, mas que poderia existir no futuro. Essa visão deslumbrante rendeu a Meillassoux inúmeros admiradores, mas poucos ou nenhum discípulo literal. Apesar da clareza amigável de sua comunicação com os leitores, ele é um pensador de rara solidão.