(Hadot2018)
As obras da arte antiga revelam a Goethe, portanto, dois aspectos da atitude da alma antiga diante do presente. Primeiramente, o sentido do “instante pregnante”, decisivo, daquilo que os gregos denominavam kairos, o momento que é preciso captar e representar para que nele se veja o passado e o futuro, como o fez o escultor da “tumba da bailarina”, sobre a qual fala Goethe numa carta a Sickler:
A maravilhosa agilidade com que a bailarina passa de uma posição a outra – e que provoca nossa admiração diante de tais artistas – é então fixada por um momento, de modo tal que, nesse momento, enxergamos a um só tempo o passado, o presente e o futuro e somos assim transportados para um estado supraterrestre.
E a propósito da representação do momento no Laocoonte, Goethe observa:
Se uma obra plástica deve realmente se mover diante dos olhos, é preciso escolher um momento de transição: pouco antes, nenhuma parte do todo se encontrava nessa posição; pouco depois, cada parte deve ter sido obrigada a sair dessa posição. É assim que a obra estará sempre e novamente viva diante de milhões de espectadores.
Essa escolha do momento decisivo nas obras da arte antiga pressupõe, de modo geral, uma atenção aguda ao instante presente e a sua significação, ao papel que ele desempenha no desenrolar dos acontecimentos, no devir dos processos.