fogo (Barbuy)

Excerto de BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 89-90

Os seres se determinam a partir do Indeterminado [apeiron] de que fala Anaximandro. Mas é o Fogo de Heráclito, símbolo da Luz [phos], que cria os seres na Physis. Heráclito fala de um rio [potamos], que é a imagem de tudo quanto passa; mas não é verdade que, segundo Heráclito, não há senão o que passa; o Fogo não passa; é o Fogo que faz com que as cousas passem sem passar ele próprio; não desceremos duas vezes ao rio da Physis porque esse rio nunca será o mesmo; o rio que se destacou da noite originária é o reino movediço, onde tudo é tensão, e onde a harmonia só é possível pela conversão dos contrários; a geração dos seres vem do conflito, polemos; tudo resulta das oposições recíprocas e é por isso que tudo flui à maneira de um rio, onde duas vezes não desceremos porque nem nós, nem o rio, seremos duas vezes os mesmos.

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