Fernandes (SH:61-62) – Instrumento da Criação (mente, pensamento, linguagem)

Por seu lado, se o Instrumento da Criação (a Mente, o Pensamento e a Linguagem) não pudesse gerar essas existências, a essas infinitas distâncias do Ser (o que se chama vulgarmente de “distinção entre sujeito e objeto” ), então não poderia haver experiência. No entanto, isso é o que a mente pode fazer, e a mente é um instrumento da Experiência consciente, não o inverso. Um leitor mais atento poderia aqui perguntar: Mas o que distinguiria então a transparência da Consciência, da transparência da Inconsciência, ou da reatividade mental inconsciente? Em última análise, nada! É por isso que “seu” estado mental agora é “puramente consciente”, como a “mente desperta de Buda”, como diria um mestre Zen. Poderíamos fechar este livro aqui, apesar de ele estar sendo escrito para explicar a natureza daquele pensamento insidioso, que é o de que… não parece [sic] que nosso estado mental agora é o estado inteiramente desperto da mente de Buda. A natureza deste pensamento consiste em que ele insiste no impossível, que é tomar como objeto uma aparência: a de que somos ignorantes (não-despertos, como o Buda). E o que distinguiria então a opacidade do Não-Ser da opacidade do que é “subjetivo” por ser erroneamente tomado como uma “aparência”, resistente à realidade? Em última análise, nada! É por isso que “seu” estado mental agora é obscuramente inconsciente, ao contrário da Consciência de Buda, que é “não-mente”, como diria um mestre Zen. Não poderíamos fechar este livro aqui, apesar de ele estar sendo escrito para celebrar a natureza da Vida, na plenitude da Presença de Espírito, ou Experiência em si mesma, sobre o que, a rigor, não se precisaria escrever livros, por tratar-se daquilo que verdadeiramente somos ou vivemos. A possibilidade de ser bem sucedido em escrevê-lo consiste em fazer desaparecer as aparências do plano meramente instrumental das pseudo-experiências para integrá-las ao plano da Experiência. Dito de outro modo: as Aparições e Desaparições que a extensão do Ser como Experiência projeta no Não-Ser têm dois destinos possíveis: ou voltam ao Instrumento como “objeto”, “a realidade”, verdadeira imposição de sentido, com notória indiferença às “intenções” e desejos do ego ou… apresentam-se, “são” pura Presença, instantânea, momentânea, sem duração, eterna, infinitamente ressonante, fazendo de cada Experiência em si mesma uma obra de Arte. Não se preocupe: “você”, “eu”, e o que quer que seja que o pensamento indexa como relativo a umponto de vista”, não sobrevive a este último destino das Aparições e Desaparições: não há “eu” ou “sujeito” que possa sobreviver para estar lá, “tendo”, “possuindo”, “gozando” ou “sofrendo” a obra do Espírito. Já “morremos para nós mesmos”, já não “existimos”, já não podemos “terexperiência porque — finalmente! — somos Experiência.

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