Agora, vamos ao que… “pensamos” que pensamos, no que diz respeito ao (novamente “pensamos” que pensamos) que somos “nós” : abstraindo pela segunda vez aquelas três características estranhas ao Ser (substância, essência e existência), entendo o Ser do humano como a transparência perfeita, mas na qual pode transparecer, ou pode ser compreendido aquilo que é opaco. E já que não somos o Ser enquanto Ser, ou Consciência em si mesma, proponho que sejamos sua “imagem e semelhança”, ou seja, Experiência (com maiúscula!) em si mesma. E esta última que também chamo de “Ser-enquanto-Experiência”, ou “Ser-como-Experiência”. Nada demais: a ideia é, como anunciei na Introdução, a de que somos Experiências, ao invés de as “termos”.
Contudo, “explicar” essas coisas exige de imediato que se dê atenção à problemática da “intencionalidade”, tanto da “nossa consciência” (com minúscula), quanto da “nossa experiência” (com minúscula). E a título de mera introdução ao assunto, retomo o tema central de Filosofia da Consciência: o da distinção entre Aparência e Realidade. Mas aviso ao leitor que vou introduzir, no tratamento que vou dar aqui a essa questão, algumas modificações cruciais, em relação ao tratamento que a ela foi dado naquele livro. Não que reconheça algum engano de minha parte — se o reconhecesse, admitiria de bom grado! —, mas vejo hoje que o modo como o tema foi tratado ali podia induzir ao engano. Não estava enganado, mas era enganoso (na língua do Império, diria “misleading’’).