Fernandes (SH:51-52) – Ser “absolutamente transparente”

Proponho que o ser de um ente seja uma interface—justamente a interface entre Ser e Não-Ser que faz de um ente, por um lado, um ser determinado, reidentificável, e, por outro lado, um indivíduo, único, irrepetível (não “identificável” a outro), independente de espaço ou tempo, e incomparável (não meramente “diferente”). Ora, aquilo que está “deste último lado”, o lado do indivíduo, é “absoluto”, não “subjaz”, não “dura”, não “permanece idêntico a si mesmo” [sic], “ao longo do tempo e do espaço” e, sobretudo, não se “identifica” (não “existe”). O leitor terá paciência para ler minhas explicações?!… Mas quanto poderá ele… suportar?

Veja: há uma enorme diferença entre o meme “ser humano”, que a mente fabrica, e o Ser do humano. Desculpe: “meme” é um meme deliciosamente inventado pela Biologia, como o análogo do gene, no plano simbólico da cultura. Ora, a Mente, o Pensamento e a Linguagem podem tanto com o Ser quanto um grão de pó com o pé que o esmaga. E o “ser humano” que está em frangalhos (releia o que se chama de sua “História”) e que, ao invés de glorificado, deveria ser superado, mas não o Ser do humano. Este não é “menos” Ser, não é menos plenamente Ser, que o Ser-enquanto-Ser, simplesmente porque tem ser, e o Ser não admite gradações ou degradações. Se abstrairmos do Ser as três características que lhe considero estranhas, quais sejam, as de (ser dito ou pensado como) substância, (ser dito ou pensado como) essência, e (ser dito ou pensado como) existência, entendo o Ser-enquanto-Ser como a única coisa que não “tem segundo”, não tem nada que não seja Ele mesmo ou que com Ele “contraste”, sendo, portanto, absolutamente… transparente. (Sobre o “ser dito como”: sim, to de on legetai men pollachos, Met. IV. 2 1003a33; 1003b6; Met. VI, VII, etc.! [51] Mas essa metafísica é uma “racionalização” da língua grega antiga; na verdade, é um saco de gatos ou uma lista de Borges. Passo. Ainda não chegamos a Wolff, Ontologia seu Philosophia Prima est scientia entis in genere, seu quatenus ens est, e, muito menos, à blitzbdeg analítica do Século passado — Ver, por exemplo, a página de Corazzon na internet, sobre “Descriptive and formal ontology”!) Passo, passo… passo!!!

Mas… por que seria o Ser “absolutamente transparente”?! A noção de “transparência absoluta” lembraria ao leitor alguma coisa? Por “acaso” não seria sempre, necessariamente, aquilo “através do que” qualquer outra coisa, seja o que for (exceto, obviamente, a própria transparência absoluta), poderia ser a “outra coisa” que ela for, o ente que ela for, pressupondo, portanto, alguma não-transparência, ou opacidade? E agora pergunte-se pelo que, em sua vida, tem precisamente essa característica e certamente lhe ocorrerá: a consciência. Quando pensamos que ela se obscurece, sempre nos enganamos: não é ela que se obscurece, mas a ideia mental (inconsciente) de seu “possuidor” (Ver FC, Sec. 3.2: “Um Mito: O Jogo de Luz”.) Pois é esta a natureza do Ser enquanto Ser: Consciência (com maiuscula!), em si mesma. Pudera! O que teria sobrado para que Ele fosse?!

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