É em virtude de situarmos a nossa vida segundo as mais variadas circunstâncias que podemos deixar de reconhecer na existência humana qualquer característica de constância. Ao longo do dia, formam-se os mais diversos estados de espírito. Somos também afetados por todo um mundo de coisas. A nossa alma é afetada por essas circunstâncias e por essas situações. Acontece-nos o mundo, um mundo que não se circunscreve aos acontecimentos daquilo que identificamos como a realidade exterior, mas também as experiências íntimas do mundo interior em que se processa o suceder da nossa existência. Uma vez que nos encontramos expostos aos mais variados estados de espírito, formas anímicas de afetação que nos transtornam, perturbam e afligem «é manifestamente difícil para qualquer homem tornar-se apto e preparado, tornar-se, portanto, bom» [Prot., 344b7. ἀγαθόν não no sentido «moralmente bom», mas no sentido que a palavra «bem» tem, quando dizemos que «passamos bem», enquanto uma «boa» maneira de estar, como uma qualificação da vida que resulta de uma abertura à excelência. Pela abertura à arete tornamo-nos aptos, apropriamo-nos de uma possibilidade aparentemente vedada. Cada situação em que caímos requer uma avaliação renovada.]. [CaeiroArete:137-138]