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estilo
quinta-feira 25 de janeiro de 2024
Luiz Costa Lima
Malgrado a importância que o conceito? de estilo? desempenha para campos tão distintos quanto a crítica de arte?, em especial a literária, e a arqueologia, a história da arte e a antropologia?, o fato? é que a indagação sobre o mesmo longe está de apresentar bases satisfatórias. Os estudos se revelam de aplicação particular? — o estilo de tal ou qual autor — e, embora toda uma corrente de crítica literária tenha se baseado na apreensão de sua realidade?, a estilística, os pressupostos teóricos da indagação ou não se enunciam ou se mostram de profunda insuficiência. É por conta deste quadro de carências que se multiplicam as associações equívocas — a exemplo de estilo e desenvolvimento? cíclico, estilo e evolucionismo, estilo e constantes raciais, etc. As duas mais salientes, contudo, são, respectivamente, de origem? psicológica e sociológica. A primeira começa a empreender seu curso contemporâneo com Charles Bally, que, partindo das identificações entre língua-social e discurso?-individual, considerava o estilo como o resultado das escolhas feitas pelo criador?. Como já se disse tal passagem rompia muito depressa com o lastro social ou normativo (185), pagando seu tributo à ideologia do individualismo?. A langue saussuriana passava a se confundir com o conjunto de pressões coletivas das quais só o criador conseguia se libertar. Muito embora fosse direta a associação com a ideia? romântica do gênio, os que, direta ou indiretamente continuaram a linha de Bally não se aperceberam da ideologização que seus estudos empreendiam. Assim acontece com L. Spitzer, o mais famoso dos críticos estilísticos, de rumo entretanto independente? quanto a Bally. Seus estudos, apesar da extensão do lapso temporal que atravessam, pressupõem em comum a identificação do estilo com o gênio individual, sendo a análise estilística a "recuperação" de seu ato? de rebeldia: "O leitor deve procurar colocar-se no centro criador do próprio artista e recriar o organismo? artístico". A concepção sociológica, ao contrário, tem enfatizado a natureza? determinante dos fatores sociais no estabelecimento de um estilo. Ela reproduz, de maneira inversa, os defeitos da direção anterior: as mediações entre individual e social são depressa abandonados e o analista se concentra na verificação dos fatores sociais condicionantes, como se a langue fosse capaz de falar por si? mesma. Os vícios das duas colocações se patenteiam nas experiências de campo?. Como explicar, se estilo e personalidade? criadora são previamente identificados, que grandes artistas contemporâneos apresentem semelhanças de estilo? Acuado, o crítico recorre ao arsenal das ideias feitas, lançando mão do conceito de pano de fundo social, de história das influências, etc. Ao contrário, se localizamos nas relações de produção o elemento matriz? da natureza de toda expressão, como explicamos a similaridade de estilos de períodos históricos sem nenhuma relação entre si?
Tais erros, na verdade?, roram cometidos pui conta do estágio das ciências de cujos modelos os analistas se aproximavam do que mesmo por não serem eles psicólogos? ou sociólogos. Ao lado, porém, desta razão externa, sobressai outra de cunho interno: a insuficiência da própria linguística em oferecer instrumentos e conceitos de controle seguro no campo. Conforme Aline Lavasseur, as dificuldades oriundas da aplicação da ideia de estilo se classificam em dois grupos: 1) o estilo é considerado como "a resultante de um conjunto de escolhas", 2) o estilo é tomado como "um afastamento quanto à norma". As dificuldades são imediatas para ambas as conceituações. Quanto à primeira: "seria conveniente precisar o tipo de escolhas que caracteriza o estilo, questão que não parece ter, até agora, chamado muito a atenção dos especialistas". Quanto à segunda, a dificuldade resulta de seus praticantes parecerem ter por assente que a norma, de que o estilo é um afastamento, já está definida quando a questão verdadeira é a do encontro de critérios para fazê-lo.
Em ambos os casos, em suma, nos reencontramos com o problema? das mediações entre código e manipulação das mensagens. Daí acrescentarmos: a questão do estilo necessita para avançar do conhecimento? e operacionalização simultâneas das mediações internas — entre discurso-padrão e discurso de desvio (artístico) — e das mediações externas — entre contexto? e texto.
Ao contrário do que supõe Aline Lavasseur, contudo, um instrumento? em princípio capaz de solver as dificuldades em que se debate a segunda corrente por ela indicada é fornecido pela análise de Chomsky sobre a sintaxe verbal. A norma é objetivada pelas leis que dão conta da gramaticalidade em uma língua e, automaticamente, o estilo é ressaltado pelo grau de obediência ou infração da mesma. Tais estudos, entretanto, ainda se encontram em fase extremamente exploratória. Só não supomos que o instrumento alegado seja suficiente sob o prisma da crítica literária. Ele fornecerá apenas a margem inicial de certeza?. Além desta, se abre a frente da lógica do texto formulado pelo estilo, questão que se processa em plano distinto, pois, enquanto o estilo diz respeito? à estrutura? de superfície do texto, a lógica se entranha em sua estrutura profunda.