Dualidade do “isso”

(Groddeck1991)

Nos dez anos que se passaram desde as minhas últimas comunicações sobre a hipótese de trabalho do isso no ser humano, nada aconteceu que pudesse me levar a abandonar esse modo de olhar, várias vezes testado, ou a mudar algo essencial nele.

Permaneço na afirmação de que o humano, seja quem for, depende dessa entidade envolta em mistério irredutível, e mantenho, igualmente, que ninguém pode sondar as profundezas do isso.

No entanto, posso oferecer algumas explicações sobre as formas do isso que têm sido pouco abordadas até agora. Parece-me também necessário destacar que uma dessas formas é o eu. Como o concebo, já comuniquei, dentro do possível, no Livro do Isso.

Outra forma do isso, que me é mais acessível, eu gostaria de chamar de dualidade do isso: o ser humano, seja qual for, pode ser considerado como, ao mesmo tempo, masculino-feminino e infantil-pubere.

Na vida do ser humano como um todo, assim como em suas partes, o isso — uma experiência distinta — se revela tanto autônomo quanto interdependente; ou, para dizer de outra forma: parece existir entre a totalidade do ser humano e a célula, ou entidades ainda menores, como o tecido, o órgão específico ou partes do corpo, uma relação análoga àquela que, em épocas anteriores, se supunha existir nas noções de macrocosmo e microcosmo, para o todo e a parte.

O simbólico, por fim, que acompanha toda relação da vida humana, é uma forma do isso.

Desconsiderando as pressões do cotidiano e da profissão, foi um comércio algo unilateral e pessoal com obras plásticas e com a linguagem que me conduziu ao presente ensaio de observar essas formas do isso.

Que haja, em todo ser humano, masculino-feminino e infantil-pubere, já se deduz do fato de que o ser humano surge de um homem e de uma mulher, e que, sem dúvida, tanto quanto conseguimos demonstrar até agora, ocorre uma mistura, mas não uma dissolução mútua dessas partes constituintes. Que, em todas as suas funções vitais fundamentais — no morrer e no surgir das células, no respirar, dormir, mover-se, alimentar-se —, ele permanece, por mais adulto que seja, infantil, isso também é algo evidente. No que se segue, falar-se-á tanto do símbolo que quase posso supor que meus esforços se destinam apenas à descrição dessa forma do isso.