Miradola1486
Para os fins do que segue, é necessário saber que toda causa que produz um efeito por artifício ou intelecto possui em si a forma da coisa que quer produzir, assim como o arquiteto possui em si, em sua mente, a forma do edifício que quer construir e, referindo-se a esse modelo, produz e compõe sua obra imitando-o1. Os platônicos chamam essa forma exemplar de ideia ou exemplo, e querem que a forma do edifício que o artista tem em mente tenha uma existência mais perfeita e autêntica do que a obra que o artista então produz no material correspondente: pedra, madeira e similares. Assim, quando um arquiteto constrói uma casa, eles dirão que há duas casas, uma inteligível, que o arquiteto tem em mente, e outra sensível, que ele construiu em mármore, pedra ou outro material, traduzindo, na medida do possível, para o material escolhido a forma que ele concebeu em si mesmo. É isso que Dante, nosso poeta, evoca quando declara em um de seus poemas: “Pois aquele que pinta uma figura não pode criá-la se não puder participar dela”2
Assim, os platônicos declaram que Deus, tendo produzido apenas uma criatura, foi, no entanto, a causa de todas as coisas, pois produziu nesse espírito angélico as ideias e formas de todas as criaturas. Esse espírito, portanto, possui a ideia do Sol, a ideia da Lua, dos homens, de todos os animais, plantas, pedras, elementos e todos os componentes do universo. E se considerarmos que a ideia do Sol é um sol mais autêntico do que o sol sensível, e que o mesmo é verdadeiro para o resto, segue-se que esse espírito não apenas produziu todas as criaturas, mas também as produziu no modo mais verdadeiro e perfeito de existência que elas poderiam ter, isto é, em um ser autêntico, ideal e inteligível; e é por isso que esse espírito é chamado de mundo inteligível.