Por sua vez, as nossas volições são de duas espécies; umas são ações da alma que se confinam na própria alma, como quando queremos amar Deus, ou de uma maneira geral aplicar o nosso pensamento a qualquer objeto não material; as outras são ações que se estendem ao nosso corpo, como quando, só porque temos vontade de passear, as pernas se movem e andamos. [DESCARTES, René. As paixões da alma. Tr. Newton de Macedo. kttk editora, 2018 (epub), Parte I, Artigo 18]
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Lemos, por exemplo, no Tratado das Paixões de Descartes, essa descrição de nossas vontades concernindo nosso corpo: são ações da alma “que terminam em nosso corpo, como quando disso apenas temos a vontade de andar, segue-se que nossas pernas se movem e que andamos” (I, 18). Disso apenas … segue-se que …: a decomposição filosófica de “nós caminhamos” para “nós temos vontade de andar” e “nossas pernas se movem” sugere fortemente que deve ser encontrado um elo entre o ter uma vontade e o fato que o movimento se produz. Mas se é necessário vincular, é que vontade e movimento do corpo são realidades diferentes. Nesse caso, é inevitável questionar se esta ligação não pode ser rompida e isto que nos garante que seja sempre dado. Uma dissociação é concebível, pelo menos em princípio, entre a realidade da vontade (“eu quero andar”) e a realidade do evento físico (“as pernas se movem”). A ação, conduzida a isto que dela pode ser dado de maneira direta ao sujeito consciente de si, é, portanto, a vontade de fazer algo: que o agir siga ou não, isso depende do poder que convém reconhecer a um sujeito da vontade tal como nós.
Assim é colocada (na filosofia moderna, isto é, pós-cartesiana) a questão de saber em que título posso pretender à qualidade de ator.