(Experience, Emerson1844)
A vida pode ser representada, mas não pode ser dividida nem duplicada. Qualquer invasão de sua unidade seria o caos. A alma não é gêmea, mas unigênita, e embora se revele como criança no tempo, criança na aparência, possui um poder fatal e universal, não admitindo coexistência. Cada dia, cada ato trai a divindade mal escondida. Acreditamos em nós mesmos como não acreditamos nos outros. Permitimos tudo a nós mesmos, e o que chamamos de pecado nos outros é experimento para nós.
É um exemplo de nossa fé em nós mesmos que os homens nunca falam do crime tão levianamente quanto pensam; ou cada um acha seguro para si uma liberdade que de modo algum concederia a outro. O ato parece muito diferente por dentro e por fora; em sua qualidade e em suas consequências. O assassinato, para o assassino, não é um pensamento tão ruinoso quanto poetas e romancistas supõem; não o perturba nem o afasta de sua atenção habitual às trivialidades; é um ato fácil de ser contemplado; mas, em suas consequências, revela-se um horroroso conflito e confusão de todas as relações.
Especialmente os crimes que nascem do amor parecem justos e belos do ponto de vista do autor, mas, quando cometidos, mostram-se destrutivos para a sociedade. No fim, ninguém acredita que possa estar perdido, nem que o crime nele seja tão negro quanto no criminoso. Porque o intelecto modifica, em nosso caso, os julgamentos morais. Pois para o intelecto não há crime. Ele é antinomiano ou hipernomiano e julga tanto a lei quanto o fato. “É pior que um crime, é um erro”, disse Napoleão, falando a linguagem do intelecto. Para ele, o mundo é um problema de matemática ou ciência da quantidade, e exclui elogios, culpas e todas as emoções fracas.
Todo roubo é relativo. Se você busca absolutos, por favor, quem não rouba? Os santos ficam tristes porque veem o pecado (mesmo quando especulam) do ponto de vista da consciência, e não do intelecto — uma confusão de pensamento. O pecado, visto pelo pensamento, é uma diminuição, uma falta; visto pela consciência ou vontade, é perversidade ou mal. O intelecto o chama de sombra, ausência de luz, e não uma essência. A consciência deve senti-lo como essência, mal essencial. Mas ele não é isso; tem uma existência objetiva, mas não subjetiva.