BUDISMO — O Pensamento Vivo de Buda
A VIDA DE BUDA
”Reduz à humildade as ideias insensatas da tua vontade, e empenha-te em subjugar a besta cruel. Estás preso à vontade; esforça-te em desatar este laço que não poderia ser rompido. Tua vontade é tua Eva. , De Conversione.”
A história da vida de Buda é bastante conhecida, de modo que nos bastará resumi-la aqui rapidamente: os oitenta anos de sua vida abrangem a maior parte do século V a. C., mas as datas exatas de seu nascimento e sua morte são incertas. O príncipe Siddharttha, filho único do rei Suddhodana do clã dos Sakiya, e de sua esposa Maha Maya, nasceu em Kapilavatthu, capital de Kosala, país que se estendia do Nepal meridional até ao Ganges. Quando falamos do rei (raja), é preciso não esquecer que a maioria dos “reinos” do vale dos Ganges nessa época eram na realidade repúblicas presididas pelos “reis” em questão; o processo seguido nos concílios de monges budistas foi análogo ao das assembleias republicanas e ao das corporações e conselhos de províncias.
Até o momento do Grande Despertar, Siddharttha não passava ainda de um Bodhisatta, embora essa existência fosse a última de inúmeros renascimentos no curso dos quais ele amadureceu as supremas virtudes e a sagacidade que conduzem à perfeição. Tornando-se Buda, “o Desperto” é às vezes designado pelo seu nome de família, Gotama ou Gautama, o que o distingue dos sete (ou dos vinte e quatro) Budas anteriores dos quais era mais precisamente o descendente em linha direta. Vários dos epítetos de Buda o ligam ao Sol ou ao Fogo e subtendem sua natureza divina; ele é, por exemplo, “o olho do Mundo”; seu nome é “Verdade”, e entre os sinônimos mais significativos da palavra Buda (o “Desperto”) temos as expressões “o que se tornou Brahma”, “o que se tornou Dhamma”. Diversos trechos de sua vida são a repetição direta de mitos anteriores. Por isso somos levados a perguntar-nos se a “vida” do “Vencedor da Morte”, do “Mestre de sabedoria dos deuses e dos homens”, que declara ter nascido e sido educado no mundo de Brahma, e ter descido do céu para nascer das entranhas de Mara Maya, pode ser considerado como histórico, ou se não é antes mítico, onde as naturezas e os altos feitos das deidades védicas Agni e Indra se encontram “evhemerisadas” de modo mais ou menos natural. Não possuímos extratos contemporâneos; mas no século III a. C. certamente acreditava-se que Buda tinha vivido como homem entre os homens. É um enigma que não podemos discutir aqui; embora o autor se incline a dar sua preferência à interpretação mítica, falaremos de Buda como se fosse uma personagem histórica.
O príncipe Siddharttha foi educado na opulência da corte de Kapilavatthu; foi mantido na completa ignorância da velhice, da doença e da morte às quais todos os seres deste mundo estão submetidos por natureza. Casaram-no com sua prima Yasoda, que lhe deu um único filho, Rahula. Foi pouco depois do nascimento de Rahula que os deuses acharam que chegara a hora em que Siddhartta devia “sair” e empreender a missão para a qual se preparara durante tantos nascimentos anteriores, momentaneamente esquecidos por ele. Tinha-se dado ordens: logo que ele atravessasse a cidade para se dirigir do palácio ao parque de recreio, nenhum velho, nenhum doente, nenhum cortejo fúnebre devia aparecer nas ruas. Assim propunham os homens; mas os deuses apareceram servindo-se das formas de um doente, de um velho, de um cadáver e de um monge-mendicante (bhikkhu). Quando Siddharttha viu estes espetáculos, inteiramente novos para ele, e aprendeu pelo seu cocheiro Channa, que todos os homens estão sujeitos à doença, à velhice e à morte, e que somente o religioso mendicante se eleva acima desta dor que o sofrimento e a morte causam a todos os outros seres humanos, ficou profundamente abalado. Tentou logo procurar remédio a esta qualidade mortal que é inerente a todos os compostos, a tudo o que teve um começo e que deverá ter consequentemente um fim. Em outras palavras, dispôs-se a descobrir o segredo da imortalidade e dá-lo a conhecer ao mundo.
Regressando ao palácio, informou o pai de sua disposição. Como o rei não o pudesse dissuadir, tentou reter à força seu filho e herdeiro, colocando guardas em todas as portas do palácio. Mas uma noite, após ter lançado um último olhar à sua esposa e ao seu filho, que dormiam, Siddharttha chamou seu cocheiro e, montando seu cavalo Kanthaka, aproximou-se das portas, que os deuses lhe abriram sem ruído; conseguiu fugir. Era a “Grande Partida”.
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