A sobredimensionalização das coisas de Zhuang Zhou não tem a intenção de gerar um sentimento do sublime, que surgiria pelo fato de o objeto ultrapassar a medida imaginável. Kant chama de “sublime” o que é “absolutamente grande” (absolute non comparative magnum), o que é “grande além de qualquer comparação” 1. O sentimento do sublime surge quando o objeto, devido ao seu tamanho, ultrapassa a capacidade da imaginação na estimação estética de grandeza. A imaginação não consegue compreendê-lo em uma imagem. Com o fracasso da representação, ela é levada para além de si mesma para outra faculdade cognitiva, a razão, que, por não depender da sensibilidade, é capaz de ideias, como a ideia do infinito, por exemplo. O sentimento do sublime se deve ao conflito entre imaginação e razão, entre o sensível e o suprassensível. Ele surge no momento em que o sensível é ultrapassado em direção ao suprassensível. É um sentimento vertical, um sentimento de transcendência. Deve-se à tensão dicotômica entre imanência e transcendência, entre fenômeno e númeno. Por outro lado, a sobredimensionalização das coisas de Zhuang Zhou não leva ao suprassensível ou à “ideia” do infinito. Não desemboca na exigência de “estimar como pequeno, em comparação com as ideias da razão, tudo aquilo que a natureza, como objeto dos sentidos, contém de grande para nós” 2. A estratégia de sobredimensionalização de Zhuang Zhou é mais uma estratégia de deslimitação, de dessubstancialização, de esvaziamento e de desdiferenciação. Ser grande significa transcender as distinções rígidas e as oposições, além de qualquer posição definitiva, ou mesmo se desdiferenciar, tornando-se uma amabilidade imparcial. Quem é tão grande quanto o mundo não é impedido ou obstruído por nada no mundo. Aquele que, em vez de habitar no mundo, consegue se deslimitar até abranger o mundo não conhece idas e vindas, altos e baixos, nem memória e expectativa nem alegria e aversão nem afeição e repulsa. O ser-no-mundo tem que ceder lugar ao ser-mundo. Esse é também o significado de “colocar o mundo no mundo” (zang tian xia yu tian xia, 藏天下於天下). Ser-grande retira o “Dasein” (Heidegger) de sua estrutura de cuidado. Leva a um des-cuidado. O primeiro livro, no qual Zhuang Zhou permite que suas criaturas gigantes apareçam de modo tão abundante, trata precisamente de uma caminhada sem cuidado (xiao yao you, 逍遙遊). Fala de uma particular ausência de esforço, que seria o equivalente do Extremo Oriente ao conceito ocidental de “liberdade”. Não há esforço porque não opomos nada ao mundo, mas nos unimos totalmente a ele. (ByungA)