Várias ações extraordinárias eram atribuídas à sabedoria e poder de Empédocles. Reconhecera que uma epidemia de peste, que assolava a cidade de Selinonte, provinha das emanações insalubres de água próximas da cidade. Empédocles pagou do seu bolso os trabalhos necessários para desviar o curso de rios próximos, que, com as suas correntes, purificaram os locais e arrastaram os miasmas pestilenciais. Transbordando de reconhecimento, os habitantes de Selinonte honraram-no como a um deus. Passava igualmente por ter modificado o clima de Agrigento, fazendo estender peles de asno numa estreita passagem por onde se precipitavam os ventos etésios, cuja violência era uma perpétua ameaça para as colheitas.
Mas as proezas mais extraordinárias de Empédocles exerceram-se no domínio da medicina. Conta-se que ressuscitara uma mulher que já não respirava havia trinta dias. Estava mergulhada em profunda letargia, mas Empédocles descobriu um ponto de calor à flor da pele e conseguiu trazer à vida a que devia ser uma histérica.
Conta-se, também, que, pela omnipotência da música, era capaz de apaziguar as paixões. Foi o que fez quando, vendo surgir em casa do seu hospedeiro um jovem furioso que lhe lançava em rosto ter condenado seu pai à morte, conseguiu restituir a calma ao que a tinha perdido, cantando os versos da Odisseia onde se fala do nepentés, a droga que acalma a dor, a cólera e cura todos os males.
Empédocles participou de muito perto na vida política da sua cidade. Seu pai tinha contribuído para a proclamação de uma constituição democrática. Após a sua morte, o partido aristocrático levantou a cabeça e Empédocles tomou então partido pelo povo e defendeu a democracia. Foi-lhe proposto o título de rei, mas recusou. Várias anedotas mostram-no a fulminar os que tentavam obter qualquer privilégio social. Uma tradição afirma mesmo que fez dissolver a Assembleia dos Mil, constituída por cidadãos escolhidos entre as famílias mais ricas, segundo um sistema censitário dos mais restritos. Empédocles concedeu um dote a numerosas jovens da sua cidade e adquiriu por todas as suas liberalidades enorme popularidade, o que, naturalmente, lhe atraiu invejas e inimizades.
Empédocles deixou a cidade natal para viajar. Foi a Turioi e visitou em seguida a Grécia. Diz-se que em Olímpia mandou cantar as suas Purificações pelo rapsodo Cleomenes. É possível que tivesse ido a Atenas, mas o fato não está absolutamente comprovado. Cerca de 440, decidiu regressar a Agrigento, mas a ausência de dez anos tinha permitido aos seus inimigos adquirir influência. Foi proibido de entrar na cidade. Exilado, acompanhado do discípulo Pausânias, compôs a sua obra sobre a natureza, durante os últimos anos de vida.
Como teve lugar a morte de um ser cuja existência havia sido tão extraordinária? Não se sabe ao certo. Mas a lenda veio substituir a história, de tal modo que faz, doravante, parte integrante de toda a atmosfera que envolve Empédocles. Uns pretendem que Empédocles se afogou, outros que morreu em consequência de uma ferida que fizera ao cair do seu carro. Mas a lenda mais grandiosa é a da sua desaparição no Etna. Deixando de lado as numerosas variantes de detalhe, parece que nos encontramos em presença dos seguintes elementos. Empédocles oferecia um sacrifício e os amigos foram convidados para o festim. Quando este terminou, foram descansar para debaixo das árvores vizinhas, mas Empédocles ficou no lugar que ocupara durante o banquete. De madrugada, quando os convidados se levantaram, Empédocles havia desaparecido. Um criado contou que, durante a noite, tinha ouvido uma voz forte chamando Empédocles, enquanto uma luz aparecia no céu. Pausânias declarou aios convidados que qualquer busca seria inútil, porque Empédocles, tornado deus, devia ter sido arrebatado à Terra para ser conduzido aos céus. Sobre esta lenda enxertou-se uma outra que fascinou os românticos. Empédocles ter-se-ia precipitado na cratera do Etna, a fim de se purificar no fogo, mergulhar no seio da Terra e voltar ao ciclo dos seres, princípio da metempsicose. O Etna teria seguidamente repelido uma das sandálias de bronze do filósofo.
Entre o mistério e a lenda, acabou a vida deste filósofo-taumaturgo, cuja morte fabulosa devia sugestionar tão vivamente a imaginação de Hölderlin e Nietzsche.
Conhecemos os títulos de duas obras de Empédocles, títulos que são devidos, talvez, aos escoliastas posteriores ao filósofo: Da Natureza e Purificações. Destes dois livros escritos em verso, restam-nos apenas fragmentos. (Jean Brun, “Pré-Socráticos”)