Paradoxalmente, como o próprio Cavell observa, a despsicologização da psicologia pode dar a impressão de levar, em Wittgenstein, à redução de toda a filosofia a um certo tipo de psicologia ou, mais geralmente, de antropologia; pois o filósofo não faz nada mais, em última análise, do que chamar nossa atenção para a maneira como nomeamos as coisas, como falamos delas, as consideramos e as tratamos, o lugar que ocupam e o papel exato que desempenham em nossa vida, etc. Por que Wittgenstein, que declara querer simplesmente descrever o “estado civil” de nossa linguagem, de nossa matemática, etc., chama de “lógica” ou “gramática” o que às vezes se assemelha tanto à psicologia ou à sociologia empíricas? Já demos parte da resposta. A filosofia é, antes de tudo, uma técnica de análise de conceitos. Ela pode se interessar, por exemplo, pelos conceitos de uma ciência sem ter que se interessar pela origem ou justificação desses conceitos, nem pelo objeto dessa ciência. São nossos conceitos tais como são, e não sua razão de ser ou sua história, que lhe fornecem seus problemas.
Desse ponto de vista, a filosofia tem, de certa forma, suas próprias “experiências”; mas não são de modo algum experiências psicológicas; são, por assim dizer, experiências lógicas ou conceituais, Gedankenexperimente que se referem não a realidades empíricas, mas a possibilidades e impossibilidades conceituais, não aos fenômenos, mas às condições de possibilidade dos fenômenos, na medida em que estes só existem para nós em virtude de uma linguagem ou de um jogo de linguagem que permitem descrevê-los. A questão colocada não é: o que se pode ou poderia observar em tal ou qual caso? mas: o que você estaria preparado para dizer, o que pode ou não pode ser dito, o que faz sentido ou não faz sentido em tal ou qual caso?
(JBMI)