Benjamin Constant: mentir ou não mentir?

nossa tradução

O princípio moral, por exemplo, de que dizer a verdade é um dever, se tomado de maneira absoluta e isolada, tornaria impossível qualquer sociedade. Temos provas disso nas consequências muito diretas tiradas desse princípio por um filósofo alemão [Kant], que chega a afirmar que, em relação aos assassinos que perguntam se seu amigo que eles estão perseguindo não está refugiado em sua casa, a mentira seria um crime.

Somente através de princípios intermediários que esse princípio primário pôde ser recebido sem inconvenientes.

Mas, alguém me dirá, como descobrir os princípios intermediários que estão faltando? Como podemos suspeitar que eles existem? Que sinais existem da existência desse desconhecido?

Sempre que um princípio, comprovadamente verdadeiro, parece inaplicável, é que ignoramos o princípio intermediário que contém o meio de aplicação.

Para descobrir esse último princípio, é necessário definir o primeiro. Ao defini-lo, considerando-o em todos os seus aspectos, atravessando toda a sua circunferência, encontraremos o elo que o une a outro princípio. Nesta ligação está geralmente o meio de aplicação. Se não estiver aí, é necessário definir o novo princípio ao qual fomos levados. Isso nos conduzirá a um terceiro princípio, e nãodúvida de que chegaremos ao meio de aplicação seguindo a cadeia.

Tomo como exemplo o princípio moral que acabei de citar: dizer a verdade é um dever.

Este princípio isolado é inaplicável. Isso destruiria a sociedade. Mas se você o rejeitar, a sociedade será destruída, porque todos os fundamentos da moralidade serão derrubados.

Portanto, devemos buscar o meio de aplicação e, para esse fim, devemos, como acabamos de dizer, definir o princípio.

Dizer a verdade é um dever. O que é um dever? A ideia de dever é inseparável daquela de direitos: um dever é isto que, em um ser, corresponde aos direitos de outro. Onde não há direitos, não há deveres.

Dizer a verdade é, portanto, apenas um dever para com aqueles que têm direito à verdade. Ora, ninguém tem direito à verdade que prejudica outros.

Parece-me que este é o princípio que se tornou aplicável. Ao defini-lo, descobrimos o elo que o unia a outro princípio, e a união desses dois princípios nos forneceu a solução da dificuldade que nos deteve.

Original

Le principe moral, par exemple, que dire la vérité est un devoir, s’il était pris d’une manière absolue et isolée, rendrait toute société impossible. Nous en avons la preuve dans les conséquences très directes qu’a tirées de ce principe un philosophe allemand, qui va jusqu’à prétendre qu’envers des assassins qui vous demande-raient si votre ami qu’ils poursuivent n’est pas réfugié dans votre maison, le mensonge serait un crime.

Ce n’est que par des principes intermédiaires que ce principe premier a pu être reçu sans inconvénients.

Mais, me dira-t-on, comment découvrir les principes intermédiaires qui manquent? Comment parvenir même à soupçonner qu’ils existent? Quels signes y a-t-il de l’existence de l’inconnu?

Toutes les fois qu’un principe, démontré vrai, paraît inapplicable, c’est que nous ignorons le principe intermédiaire qui contient le moyen d’application.

Pour découvrir ce dernier principe, il faut définir le premier. En le définissant, en l’envisageant sous tous ses rapports, en parcourant toute sa circonférence, nous trouverons le lien qui l’unit à un autre principe. Dans ce lien est, d’ordinaire, le moyen d’application. S’il n’y est pas, il faut définir le nouveau principe auquel nous aurons été conduits. Il nous mènera vers un troisième principe, et il est hors de doute que nous arriverons au moyen d’application en suivant la chaîne.

Je prends pour exemple le principe moral que je viens de citer, que dire la vérité est un devoir.

Ce principe isolé est inapplicable. Il détruirait la société. Mais, si vous le rejetez, la société n’en sera pas moins détruite, car toutes les bases de la morale seront renversées.

Il faut donc chercher le moyen d’application, et pour cet effet, il faut, comme nous venons de le dire, définir le principe.

Dire la vérité est un devoir. Qu’est-ce qu’un devoir? L’idée de devoir est inséparable de celle de droits : un devoir est ce qui, dans un être, correspond aux droits d’un autre. Là où il n’y a pas de droits, il n’y a pas de devoirs.

Dire la vérité n’est donc un devoir qu’envers ceux qui ont droit à la vérité. Or nul homme n’a droit à la vérité qui nuit à autrui.

Voilà, ce me semble, le principe devenu applicable. En le définissant, nous avons découvert le lien qui l’unissait à un autre principe, et la réunion de ces deux principes nous a fourni la solution de la difficulté qui nous arrêtait.

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