Miradola1486
Os platônicos distinguem todas as criaturas de acordo com três graus, dois dos quais são extremos. Pelo primeiro, devemos entender todas as criaturas corpóreas e visíveis, como o céu, os elementos, as plantas, os animais e tudo o que é composto de elementos. Pelo terceiro grau, entendemos toda criatura invisível, ou seja, não apenas incorpórea, mas verdadeiramente liberada e separada de toda corporeidade, tanto quanto dizer mais precisamente a natureza intelectiva, ou com nossos teólogos, a natureza angélica.
A meio caminho entre esses dois extremos, existe ainda uma natureza intermediária que, embora incorpórea, invisível e imortal1 Isso é o que chamamos de alma racional, sujeita à natureza angélica e designada à natureza corpórea, como se fosse escrava de uma e senhora da outra. Acima desses três graus está entronizado Deus, o autor e princípio de toda criatura que, assim como a divindade encontra seu ser causal em sua fonte primária, deriva seu segundo ser, e portanto formal, da procissão divina no espírito angélico. Por fim, essa divindade se reflete na alma racional por meio da participação que lhe é comunicada pela natureza angélica; é por isso que os platônicos dizem que a divindade reside em três naturezas: Deus, o anjo e a alma racional, abaixo das quais nenhuma natureza pode pretender ser divina sem abuso.
Seria possível explicar essas três naturezas com maior profundidade e distingui-las em articulações mais sutis, dividindo, por sua vez, corpos e almas em diferentes qualidades e separando o que é chamado de animais do que é chamado de seres animados, a fim de explicar por que Platão, no Timeu, chama o mundo de animal animado2. Mas trataremos desse assunto no devido tempo e consideraremos aqui apenas o que é estritamente necessário para a compreensão desse tratado sobre o amor.