Alleau (2001) – bases da simbólica geral

Qualquer ciência, inclusivamente a da história, tem a obrigação lógica de operar com um certo número de conceitos que não pode justificar nem por dedução nem por indução, pois eles constituem as bases das suas próprias operações. Quando o físico garante que «definiu» a força como uma grandeza proporcional ao produto da massa pela aceleração, nada mais enuncia do que uma regra operatória formal, que lhe permite constatar num caso experimental se o fenômeno em questão está presente ou ausente, se ele se produziu, em que condições e em que medida.

A «simbólica geral» tem também que admitir noções primeiras injustificáveis embora elas se imponham pelas suas relações constantes com todas as suas operações. A primeira é a da existência da ordem no universo. Na realidade, tal ordem é indemonstrável humanamente, uma vez que os nossos sistemas de referência são mais particulares que o seu objeto. No entanto, todas as nossas ciências admitem esta hipótese e verificam-na parcialmente quando descobrem leis. Podemos, portanto, atribuir à simbólica aquilo que não recusamos a outras ciências, físicas e humanas.

O seu segundo postulado parece mais facilmente contestável. É o da probabilidade da analogia ou da homologia das estruturas entre uma ordem parcial e uma ordem total. Esta noção é menos evidente que a anterior. No entanto, a observação da natureza não a desmente. Com efeito, constatamos, numa sucessão de sistemas ordenados, que a probabilidade das suas semelhanças é maior que a das suas diferenças. Por exemplo, poderíamos esperar encontrar no espaço elementos químicos sem qualquer relação com o carbono, base da vida orgânica terrestre. Ora, os astrónomos descobrem constantemente corpos derivados desse elemento em vez de outros, os quais, teoricamente, poderiam formar-se com a mesma facilidade nos imensos laboratórios espaciais. A bio-astronomia reserva-nos, aliás, outras analogias desse gênero ainda insuspeitadas. Os Antigos afirmavam que «a natureza gosta de se imitar a si própria nas suas operações mais complexas pelas vias mais simples». Se a analogia nunca é uma prova, pode incitar-nos pelo menos à exploração das similitudes em todos os domínios. O seu papel na ciência dos símbolos é fundamental.

Se admitirmos as duas hipóteses iniciais: a existência da ordem no universo e a lógica da analogia, elas bastam, com efeito, para fundar a simbólica geral e para estudar as suas formas mais diversas. Constituíram as bases da presente obra que tentou extrair os princípios e os métodos duma ciência nova a partir dum uso imemorial. Efetivamente, tal como a aritmética se constituiu após milénios de experiência da «arte de contar», podemos esperar da mesma maneira que, ao cabo de longas pesquisas interdisciplinares, a simbólica se organize pouco a pouco, a partir dum estudo do simbolismo, isto é, da «arte de simbolizar», do uso e da experiência dos símbolos.

Não há nada de estranho nisso: o objeto inicial dum uso é sempre o objeto final duma ciência. Prova-o a aritmética. A natureza do número inteiro ainda põe problemas, embora o génio de alguns matemáticos ilustres se tenha esforçado em vão por resolvê-los. Aquilo que menos se sabe acerca de qualquer coisa é o princípio dela. (AlleauCS)