A Stimmung, todavia, levando o Dasein à abertura de seu Da, revela-lhe ao mesmo tempo seu ser lançado nesse Da, o fato de estar desde sempre entregue a ele. Ou seja, a descoberta originária do mundo que tem lugar na Stimmung é sempre desvelamento — diz Heidegger — de uma Geworfenheit, de um ser-lançado, a cuja estrutura é inerente uma essencial negatividade. No parágrafo 40 de Sein und Zeit, analisando a angústia como Stimmung fundamental, Heidegger precisa as características dessa negatividade. Em primeiro lugar, também aqui o que a angústia revela não é um objeto intramundano determinável qualquer:
O diante-de-quê da angústia é completamente indeterminado […] por isso a angústia não tem olhos para ver um determinado aqui ou ali de onde se aproxima a ameaça. O que caracteriza o diante-de-quê da angústia é o fato de que o elemento ameaçador não está em lugar nenhum […] ele existe já, mas não está em nenhum lado; está tão próximo que nos oprime e nos corta a respiração, mas não está em nenhum lugar. No diante-de-quê revela-se o “não é nada e em nenhum lugar [nirgends]”.
No ponto em que o Dasein acede portanto à abertura que lhe é mais própria e, na angústia, coloca-se perante o mundo como mundo, essa abertura se revela sempre atravessada por uma negatividade e por um mal-estar. Se — como escreve Heidegger — o Da está agora perante o Dasein como “um inexorável enigma”, é porque a Stimmung, descobrindo o homem como desde sempre lançado e entregue à sua abertura, revela-lhe, ao mesmo tempo, que ele não é trazido por sisi mesmo em seu Da. Escreve Heidegger: “Sendo, o Dasein é lançado, não é levado por sisi mesmo em seu Da […] Existindo, ele nunca volta atrás em sua condição de lançado […] Já que ele não colocou o fundamento, ele repousa em seu peso, que a Stimmung lhe revela como um fardo”. E justamente porque o Dasein é aberto ao mundo de tal modo que ele já não é senhor de sua abertura, essa abertura ao mundo tem o caráter do estranhamento. “A angústia”, escreve Heidegger, “retira o ser-aí de seu se sentir em casa no mundo e tem por isso, antes de tudo, o caráter do estranhamento” (do não se sentir em sua casa: zu Haus).