Cassin2020
A semelhança externa entre sofística e psicanálise é impressionante. O que é mais escandaloso, tanto da perspectiva da filosofia quanto da opinião pública, é que sofistas ou psicanalistas vendem seu know-how discursivo, e sempre por um preço muito alto. Eles vendem o que não deveria ser vendido, como as “prostitutas” a quem o Sócrates de Xenofonte os compara e, como é vendido, torna-se algo bem diferente: não mais sabedoria e verdade, mas habilidade e oportunismo, tekhnê em suma. Na linguagem de Aristófanes, eles são “uma raça de malandros lambões” (panourgon egglôtogastêrôn genos).
O dinheiro é usado para duas coisas distintas, mas conectadas. Por um lado, serve para provar que o logos sofístico/analítico tem utilidade. Se alguém está pagando, é porque vale algo. É fácil entender como pagamento e eficácia se garantem mutuamente — “Em suma, há um apagão sobre o que as pessoas obtinham do oráculo dos sofistas. Sem dúvida era bastante eficaz, já que sabemos que eles eram bem pagos, como os psicanalistas.” Voltamos a todas as histórias dos misthos (honorários) que Protágoras, por exemplo, cobrava, não importando o que acontecesse. Pagamos um médico, um advogado, um professor, porque precisamos deles, assim como às vezes pagamos pelo prazer sexual.
Por outro lado, o dinheiro garante ao mesmo tempo que não estamos lidando com a verdade, que não tem preço em todos os sentidos da palavra. Por princípio platônico-kantiano, não se paga pela verdade, nem pela virtude, nem pelo amor, que são todos preciosos demais para isso. O dinheiro é um sintoma de que não estamos lidando com nada disso — “Peço que recusem o que estou lhes oferecendo porque não é isso.” Quando um filósofo é pago para dar uma palestra, é como palestrante, e não como filósofo, que ele recebe dinheiro.
O dinheiro é, assim, verdadeiramente o sintoma de uma prática discursiva análoga, que não é filosófica, e poderíamos observar uma série de estratégias que relegam sofistas e psicanalistas ao papel de objeto A, tanto “bosta de mosca” quanto “sujeito suposto saber.” Essa é a marca de sua diferença em relação a Sócrates, já que um objeto A não pode beber cicuta. Uma das principais virtudes do dinheiro é provar a disjunção entre o logos da psicanálise e da sofística e o logos filosófico, mesmo que isso irrite Lacan. Não há nada como o dinheiro para neutralizar a verdade, para o bem e para o mal. E, do lado da sabedoria, para neutralizar a transferência e emancipar quando chegar a hora: “E não é a responsabilidade que sua transferência implica que neutralizamos ao equipará-la ao significante que mais completamente aniquila toda significação, ou seja, o dinheiro?”