A dor me ensinou sua superficialidade

(Experience, Emerson1844)

As pessoas lamentam e se afligem, mas não está nem metade tão ruim para elas quanto dizem. Há humores em que buscamos o sofrimento, na esperança de que ali, pelo menos, encontraremos realidade — picos afiados e bordas da verdade. Mas acaba sendo apenas pintura cênica e fingimento. A única coisa que a dor me ensinou foi saber o quão superficial ela é. Ela, como todo o resto, brinca na superfície e nunca me introduz na realidade, pelo contato com a qual pagaríamos até o preço caro de filhos e amores. Foi Boscovich quem descobriu que os corpos nunca entram em contato? Pois bem, as almas nunca tocam seus objetos. Um mar intransponível lava com ondas silenciosas entre nós e as coisas que almejamos e com as quais conversamos. A dor também nos fará idealistas. Na morte do meu filho, agora há mais de dois anos, parece que perdi uma bela propriedadenada mais. Não consigo trazê-lo para mais perto de mim. Se amanhã fosse informado da falência dos meus principais devedores, a perda da minha propriedade seria um grande inconveniente para mim, talvez por muitos anos; mas me deixaria como me encontrou — nem melhor, nem pior. O mesmo ocorre com esta calamidade: ela não me toca; algo que eu imaginava ser parte de mim, que não poderia ser arrancado sem me dilacerar nem ampliado sem me enriquecer, desprende-se de mim e não deixa cicatriz. Era caduco. Lamento que a dor não possa me ensinar nada, nem me levar um passo adiante na verdadeira natureza. O índio que foi amaldiçoado com o vento não soprando sobre ele, nem a água fluindo para ele, nem o fogo o queimando, é um tipo de todos nós. Os eventos mais queridos são chuva de verão, e nós somos os casacos de Para que repelem cada gota. Nada nos resta agora, exceto a morte. Olhamos para ela com uma satisfação sombria, dizendo: “Ali, pelo menos, está a realidade que não nos escapará.”

Considero essa evanescência e lubrificidade de todos os objetos, que os faz escorregar por nossos dedos justamente quando mais os apertamos, a parte mais desagradável de nossa condição. A natureza não gosta de ser observada e prefere que sejamos seus bobos e companheiros de brincadeira. Podemos ter a esfera para nossa bola de críquete, mas nem uma baga para nossa filosofia. Ela nunca nos deu o poder de dar golpes diretos; todos os nossos golpes são oblíquos, todos os nossos acertos são acidentes. Nossas relações uns com os outros são indiretas e casuais.