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6 —Entonces, ¿qué decir del desdichado? ¿No es más desdichado con la prolongación? Y todas las otras cosas desagradables ¿no hacen mayor la desgracia con la prolongación del tiempo, por ejemplo los dolores duraderos, las penas y todas las cosas de este tipo?
Ahora bien, si estas cosas acrecientan el mal de este [5] modo, con el tiempo, ¿por qué las contrarias no acrecientan la felicidad del mismo modo?
—Es que, en el caso de las penas y dolores, sí cabe decir que el tiempo produce (…)
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Enéada I, 5
Enéada I, 5 (36)
PLOTINO - TRATADO 36 (I, 5) - SE A FELICIDADE CRESCE COM O TEMPO
O tratado mantendo a mesma concepção de felicidade do tratado anterior (Eneada-I-4), complementa-o. A questão relevante agora é uma questão ética antiga: o tempo faz crescer a felicidade? Na época de Plotino, esta dificuldade opõe desde séculos os aristotélicos aos estoicos e aos epicuristas. Aristóteles associa com efeito felicidade e temporalidade, posto que admite que um homem só é feliz se sua felicidade se prolonga: o "bem-aventurado" é aquele cuja felicidade persiste até a morte (Ética a Nicômaco I,11). Os estoicos estimam que "o tempo que passa não faz crescer um bem, e que, mesmo se não se é razoável por um breve instante, não se perde nada da felicidade em relação àquele que pratica a virtude toda sua vida e que passa toda sua existência bem-aventurada na virtude" (Plutarco , Das noções comuns contra os estoicos, 1061F). Crisipo repete continuamente que "aqueles que foram felizes mais tempo não são nada mais felizes, mas que são semelhantes e iguais àqueles que tomaram parte na felicidade por pouco tempo" (Plutarco, Das noções comuns contra os estoicos, 1046C). Da mesma maneira Epicuro considera que "o tempo ilimitado e o tempo limitado contêm um prazer igual, se se mede os limites do prazer pelo raciocínio" (Máximas capitais, 19). Cícero reporta que "Epicuro recusa que uma longa duração de tempo aporte algo à vida feliz e que se experimenta menos felicidade em um tempo mais curto que em um tempo eterno (...) ele recusa que um tempo infinito de vida seja mais feliz que um tempo finito ou de uma duração moderada" (Dos fins dos bens e dos males II, 27, 87-88).
Juntando-se a este debate, Plotino admite a conclusão dos estoicos e dos epicuristas. Sua argumentação se resume em três pontos principais: a felicidade não pode crescer com o tempo, pois a felicidade passada não pode se adicionar à felicidade presente; definindo felicidade para a alma como viver a vida do Intelecto, o qual transcende a temporalidade e se situa na eternidade, o tempo não teria assim nada com a felicidade; a felicidade não depende das ações virtuosas que a pessoa se coloca, não se mede ao número de ações que são efetuadas.
Capítulo 1: Introdução
- 1-2: A felicidade [eudaimonia] cresce com o tempo [chronos]?
- 2-5: Não, pois a lembrança [mneme] não aporta nada à felicidade que depende de uma disposição presente
Capítulo 2: Primeira dificuldade
- 1-2: Dificuldade: mais vivemos e agimos por mais tempo, mais nossa felicidade cresce
- 2-5: Primeira resposta: a felicidade não seria mais medida pela virtude [arete]
- 5-6: Segunda resposta: a felicidade não será jamais perfeita
- 7-13: Terceira resposta: o desejo visa sempre algo de presente
Capítulo 3: Segunda dificuldade
- 1-2: Dificuldade: ver certos objetos mais tempo não cresce nossa felicidade?
- 2-5: Resposta: não se ganha necessariamente ver um mesmo objeto mais tempo
Capítulo 4: Terceira dificuldade
- 1: Dificuldade: aquele que vê um objeto mais tempo desfruta mais tempo
- 1-5: Resposta: não se pode adicionar um prazer passado ao prazer presente
Capítulo 5: Quarta dificuldade
- 1-3: Dificuldade: aquele que não foi periodicamente feliz pode comparar sua felicidade àquela de uma pessoa cuja vida inteira foi feliz?
- 3-7: Resposta: comete-se aqui o erro de comparar, no momento preciso onde eles são infelizes, pessoas infelizes àquelas que são felizes
Capítulo 6: Quinta dificuldade
- 1-6: Dificuldade: se as dores e as penas prolongadas fazem crescer nossa felicidade com o tempo, porque os bens não fariam crescer a felicidade da mesma maneira?
- 6-23: Resposta: nossa dor cresce porque a doença ela mesma se agrava, não porque uma dor passada se adiciona à dor presente. Do mesmo modo, a felicidade pode crescer, no sentido que alcançamos um grau mais elevado de virtude, mas jamais porque durou mais tempo.
Capítulo 7: Sexta dificuldade
- 1-7: Dificuldade: porque então adicionamos os tempos passados ao tempo presente?
- 8-20: Resposta: a felicidade, contrariamente ao tempo, deve estar inteiramente presente
- 20-30: A felicidade corresponde à vida inteligível, que é eterna e intemporal
Capítulo 8: Sétima dificuldade
- 1-4: Dificuldade: a lembrança pode prolongar a felicidade?
- 4-11: Resposta: se lembrar de uma reflexão ou de um prazer não cresce a felicidade
Capítulo 9: Oitava dificuldade
- 1-2: Dificuldade: e se se tratasse da lembrança de belas coisas?
- 2-4: Resposta: isso não se aplicaria senão ao homem que sente falta de belas coisas
Capítulo 10: Nona dificuldade
- 1-3: Dificuldade: pode-se realizar mais ações virtuosas se o tempo se prolonga
- 3-23: Resposta: a felicidade reside em uma disposição da alma e não nas ações