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Schuon Aparições

quarta-feira 27 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

FRITHJOF SCHUON   — ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA

VIDE: EPIFANIA

CRITERIOLOGIA ELEMENTAR DAS APARIÇÕES CELESTIAIS — TÓPICOS

Segundo um hadith, o diabo não pode tomar a aparência do Profeta. Isto é perfeitamente plausível em si, mas não se pode questionar qual é a utilidade dessa informação, visto que, após o desaparecimento dos Companheiros, não havia mais, e não há mais, testemunha dessa aparência. O alcance prático do hadith é o seguinte: se o diabo tomasse a aparência de um homem deificado ou de um anjo, ele forçosamente se trairia por algum detalhe dissonante. Provavelmente, isso passaria despercebido para aqueles em cuja intenção há falta de desprendimento e de virtude, os quais, colocando seus desejos acima da verdade, querem, no fundo, ser enganados, mas não por aqueles cuja inteligência é serena e a intenção pura. Objetivamente, o demônio não pode tomar a aparência perfeitamente adequada de um "anjo de luz", mas pode fazê-lo subjetivamente adulando e, portanto, corrompendo o espectador aberto à ilusão. Isso explica por que, no clima da mística individualista e passional, rejeita-se, às vezes, toda aparição celeste, medida de prudência que não teria nenhum sentido fora de tal clima e que, em todo caso, é excessiva e problemática em si mesma.

A boa atitude em relação a uma aparição — ou a uma outra graça — que Deus não impõe como certeza inegável é uma neutralidade deferente, eventualmente, uma expectativa piedosa. Mas, mesmo quando uma graça apresenta caráter de certeza, é importante não se basear exclusivamente nela, receando cair no erro que muitos falsos místicos cometeram no começo da carreira. Pois o fundamento decisivo do caminho espiritual é sempre um valor objetivo, sem o que não se poderia falar de um "caminho" no sentido próprio do termo. Isto significa que, em relação às graças ou visões, não se deve ser nem indelicado nem crédulo, bastando fundamentar-se nos elementos inabaláveis do caminho, ou seja, os elementos da Doutrina ou de Método, cuja certeza é a priori absoluta e que jamais serão negados pelas graças autênticas.

  •  O diabo e as aparências celestes
  •  Qual é a boa atitude para como uma aparição?
  •  Deste gênero particular de graça que é o êxtase
  •  Dos poderes de cura, de previsão, de sugestão, de telepatia, etc...
  •  Da aparição de um homem deificado, diferença entre um sonho e um sono ordinário
  •  Algumas considerações sobre a relação entre o estado se sono e o estado de vigília no "jnanismo" moderno
  •  Qual detalhe é contrário à autenticidade de uma aparição celeste?
  •  De um critério decisivo de autenticidade
  •  De que depende nossa atitude a respeito das manifestações celestes?
    Sérgio Fernandes: SER HUMANO

    A transparência, contudo, embora seja a característica por excelência da Experiência consciente, ou Aparição, é sua condição necessária, mas não suficiente. Para que haja Experiência, é suficiente acrescentar à transparência da consciência mais duas coisas. Uma delas é a opacidade; a outra é aquilo que se vai refletir nessa opacidade — o reflexo, ou aquilo que é refletido —, para transparecer na Aparição, como algo que lhe é imanente. Pois bem: nisto consiste a compreensão. E a compreensão sim, tem algo a ver com "criação", mas fora do tempo, bem entendido! É na reatividade mental inconsciente que o reflexo é tomado como objeto e mantido à distância da verdadeira Experiência, chamando-se então de "o real", ou "o existente". Portanto, é também a transparência, no lugar de um ponto cego, que caracteriza essa forma inconsciente de reatividade mental que se insiste em chamar de "intencionalidade", "tomar algo como objeto", "ser sobre algo", etc. E é por isso mesmo, aliás, que nada, a rigor, pode simultaneamente aparecer e ser tomado como objeto, pois o que é perfeitamente transparente não aparece. Se aparecesse, não seria perfeitamente transparente, e só poderia "aparecer" através de uma transparência perfeita, que agora não pode mais ser aquela que pensávamos... Se alguma coisa pudesse aparecer, então seria a realidade, não a aparência ela mesma. Mas a realidade é o que é tomado como objeto. Assim como uma aparência, ela mesma tomada como objeto, já não apareceria, do mesmo modo o que é tomado como objeto (é "real") pode "fazer parte de", ou "transparecer em" uma Aparição, mas não pode "ele mesmo" aparecer. Para usar, pelo menos uma vez, um linguajar mais... diplomático, não me comprometo mais, ontologicamente, com aqueles "objetos" que chamávamos de "aparências", porque os estou considerando imanentes às Aparições que são as Experiências. Longe de significar que eu esteja "contra as aparências" (elevo-as à categoria de Aparições!), a reforma da Ontologia, aqui proposta, significa apenas que estou contra o equívoco de tentar salvar as aparências como objetos. Ao contrário de estar "contra as aparências", estou propondo uma concepção de experiência que tira as "aparências" do plano dos objetos e as situa na ordem das Aparições... instantâneas (ou Desaparições). Por isso estou dizendo que as "aparências", tal como costumam ser concebidas, não "existem", não são "reais", pois o que existe está mantido à distância da experiência pela Mente, que o toma como objeto. Nosso experimento de pensamento, aqui, é análogo àquele pelo qual se atribuem partes temporais e partes espaciais a um objeto que pensávamos estar "no" tempo e "no" espaço. E como se estivéssemos atribuindo aparências à própria experiência, que pensávamos ser experiência "de" aparências. Assim como, no caso do objeto, conseguimos tirá-lo do tempo e do espaço, no caso da experiência, conseguimos tirá-la do "reino das aparências". Assim como passamos a chamar os antigos objetos de "curvas espaço-temporais", também passamos a chamar as antigas experiências de "Aparições".