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Pessoa: NATUREZA E REALIDADE

domingo 27 de julho de 2014, por Cardoso de Castro

  

1 — TEMPO, ESPAÇO E SER

O tempo em si contém a possibilidade de todas as durações: o espaço em si a possibilidade de todos os tamanhos, de todas as extensões; a forma em si a possibilidade tanto do círculo como do triângulo, a possibilidade de todas as formas.

Assim como o tempo-em-si, isto é, a eternidade, é inconcebível, da mesma maneira a forma em si é impensável. Só compreendemos o tempo quando ele se materializa, se fenomeniza, em uma duração qualquer; só compreendemos a forma quando ela se determina como, por exemplo, num círculo ou num triângulo.

(Para que a forma seja no espaço é necessário que à nossa concepção de círculo estivesse ligado um tamanho determinado.)

Tudo isto quer dizer simplesmente uma coisa: que o tempo, a forma, etc, só se tornam perceptíveis quando encontram um objeto. Ora, para isto assim ser, é lógico que o objeto em si não conheça o tempo e o espaço seja extemporâneo e imenso, anterior a tempo e espaço, se assim se pode falar. [Texto provavelmente de 1912-1914]

O tempo e o espaço não podem por si próprios originar a individualidade. O Ser é necessário. Um homem morto ocupa Tempo e Espaço, mas não tem individualidade, não tem Ser. [Presumivelmente de 1907]

Em cada instante que passa decorre uma eternidade, visto que cada instante, infinitamente divisível, é infinito idealmente, isto é, eterno.

A divisão do tempo é uma convenção Realmente cada divisão dessas (seja qual for) é uma eternidade.

O célebre argumento de éternité énubée é falso no que quer provar, por ser inconcebível uma éternité énubée.

Se avançamos para o infinito não avançamos realmente, mas estamos essencialmente estacionários. [Presumivelmente de 1907]