nossa tradução
Uma ética fenomenológica deve ser uma ética baseada na experiência. Não é uma ética justificada, no entanto, pela prática em si. Começa com experiências dentro do perímetro da realidade do encontro clínico, isto é, o mundo da vida do médico e do paciente. Somente quando temos o “significado” desse encontro podemos avançar para a ética incorporada nesse significado. O significado não é um dado bruto, mas nossa percepção humana desse dado, seu significado em nosso mundo da vida. No entanto, não é apenas um significado subjetivista, mas nossa interpretação de uma realidade compartilhada do mundo que médico e paciente experimentam no encontro clínico.
A ética fenomenológica, em geral, busca o “senso de dever” das ações intencionais humanas nos significados das experiências peculiares à atividade em questão – direito, medicina, ministério, cidadania, etc. No início, prescindimos até do domínio das coisas que devem ser feitas e coisas que nunca devem ser feitas. Mas a própria ética continua sendo a ciência do “senso de dever”. Sem senso de dever, não há ética. Se o reino do senso de dever é negado como uma experiência humana universal, a ética entra em colapso no solipsismo. Esse certamente é o caso do diálogo com uma pessoa moral, cuja psicopatologia é caracterizada pelo solipsismo moral absoluto. O conceito de senso de dever em relação aos outros simplesmente não faz parte do mundo da vida do sociopata. Para o sociopata, senso de dever significa apenas o que os outros lhe devem; não há mutualidade de obrigações para a pessoa amoral.
Para aqueles que admitem a existência de obrigações morais como parte do mundo da vida, no entanto, a busca de sua base na realidade, em coisas e eventos em si é válida. No caso da ética médica, esses eventos são os da medicina, as atividades que caracterizam a medicina e as que a diferenciam de outras atividades como lei, ministério ou ensino. Cada profissão é separada da outra por uma arena específica da atividade humana, com seu próprio telos, dentro do qual ela funciona adequadamente. Cada um tem seu próprio mundo de vida compartilhado, p.ex. advogado-cliente, ministro-paroquiano, professor-aluno, psicólogo-pessoa aconselhada. Esses, como o encontro médico-paciente, são mundos da vida experimentados intersubjetivamente – cada um com seu próprio fenômeno. Em uma fenomenologia da ética médica, o método da fenomenologia – especialmente os métodos de epoche e redução – é aplicado às experiências cotidianas da medicina. A arena da experiência mais característica da medicina é o encontro de cura, a realidade clínica do médico-paciente e a relação enfermeiro-paciente. O conhecimento médico pode, é claro, ser usado além da díade clínica, por exemplo, na medicina preventiva e social. Esses usos podem ser postos de lado por enquanto. Em outra ocasião, possíveis paralelos podem ser examinados na medicina preventiva e na saúde pública pelo mesmo método fenomenológico.
Original
A phenomenological ethics should be an ethics based in experience. It is not an ethics justified, however, by practice per se. It begins with experiences within the perimeter of reality of the clinical encounter, i.e., the Life-world of doctor and patient. Only when we have the “meaning” of that encounter can we proceed to the ethics embedded in that meaning. The meaning is not a raw datum but our human perception of that datum, its meaning in our Life-world. However, it is not merely a subjectivist meaning but our interpretation of a shared reality of the world which doctor and patient experience in the clinical encounter.
A phenomenological ethics in general searches for the “oughtness” of human intentional actions in the meanings of the experiences peculiar to the activity in question – law, medicine, ministry, citizenship, etc. At the outset, one prescinds even from the realm of things that ought to be done and things that ought never be done. But ethics itself remains the science of oughtness. Without oughtness, there is no ethic. If the realm of oughtness is denied as a universal human experience then ethics collapses into solipsism. This surely is the case for dialogue with a moral person, whose psychopathology is characterized by absolute moral solipsism. The concept of oughtness in relation to others is simply not part of the life-world of the sociopath. For the sociopath, oughtness means only what others owe him; there is no mutuality of obligation for the amoral person.
For those who admit the existence of moral obligations as part of the lifeworld, however, the search for their basis in reality, in things and events in themselves is valid. In the case of medical ethics, these events are the events of medicine, those activities that characterize medicine, and those activities that set it apart from other activities like law, ministry or teaching. Each profession is set apart from the other by a specific arena of human activity with its own telos within which it properly functions. Each has its own shared life-world, e.g. lawyer-client, minister-parishioner, teacher-student, psychologist-person counseled. These, like the physician-patient encounter, are intersubjectively experienced life-worlds – each with its own unique phenomenon. In a phenomenology of medical ethics the method of phenomenology – especially the methods of epoché and reduction – are applied to the everyday experiences of medicine. The arena of experience most characteristic of medicine is the healing encounter, the clinical reality of physician-patient, and the nurse-patient relationship. Medical knowledge may, of course, be used beyond the clinical dyad, for example, in preventive and social medicine. These uses can be setaside for the time being. On another occasion, possible parallels can be examined in preventive medicine and public health by the same phenomenological method.