Parménide: Fragment 1

Peter Kingsley

The mares that carry me as far as longing can reach rode on, once they had come and fetched me onto the legendary road of the divinity that carries the man who knows through the vast and dark unknown. And on I was carried as the mares, aware just where to go, kept carrying me straining at the chariot; and young women led the way.

And the axle in the hubs let out the sound of a pipe blazing from the pressure of the two well-rounded wheels at either side, as they rapidly led on: young women, girls, daughters of the Sun who had left the Mansions of Night for the light and pushed back the veils from their faces with their hands.

There are the gates on the pathways of Night and Day, held fast in place between the lintel above and a threshold of stone. They reach right up into the heavens, filled with gigantic doors. And the keys—that now open, now lock—are held fast by Justice: she who always demands exact returns. And with soft seductive words the girls cunningly persuaded her to push back immediately, just for them, the bar that bolts the gates. And as the doors flew open, making the bronze axles with their pegs and nails spin—now one, now the other— in their pipes, they created a gaping chasm. Straight through and on the girls held fast their course for the chariot and horses, straight down the road. [26]

And the goddess welcomed me kindly, and took my right hand in hers and spoke these words as she addressed me: “Welcome young man, partnered by immortal charioteers, reaching our home with the mares that carry you. For it was no hard fate that sent you travelling this road—so far away from the beaten track of humans—but Rightness, and Justice. And what’s needed is for you to learn all things: both the unshaken heart of persuasive Truth and the opinions of mortals in which there is nothing that can truthfully be trusted at all.

But even so, this too you will learn—how beliefs based on appearance ought to be believable as they travel all through all there is. ”


Bouchart d’Orval

Les cavales m’emportent aussi loin que pouvait aller mon ardent désir [θυμός] en déploiement [πέμπον], après être venues et m’avoir mené sur la voie très chantée de la divinité, voie qui porte l’homme qui sait dans toutes les cités [v. οίδα]. C’est par ce chemin que j’étais emmené, car c’est sur lui que m’ont mené les cavales qui, sachant bien où elles allaient, tiraient le char, tandis que des jeunes filles indiquaient le chemin.

L’essieu brûlant dans les moyeux lançait le cri strident du pipeau (car il était pressé de chaque côté par les deux roues bien arrondies), quand les Filles du Soleil, ayant délaissé les demeures de la Nuit, forçaient l’allure pour accourir à la lumière, enlevant avec leurs mains le voile de leur tête.

Là se dressent les portes qui ouvrent sur les chemins de la Nuit et du Jour, encastrées entre un linteau en haut, et, en bas, un seuil de pierre. Celles-ci, bien que d’éther, sont comblées par d’énormes battants dont la très rigoureuse Justice [Δίκη] détient les clés (qu’elle actionne) en retour (de la juste prédisposition).

En la séduisant par de douces paroles, les jeunes filles la persuadèrent alors habilement de vite retirer pour elles le pêne du verrou des portes. Celles-ci (les jeunes filles), en s’envolant, rendirent béante l’ouverture entre les battants, en faisant tourner en sens opposé les gonds garnis d’airain dans les écrous bien ajustés par des chevilles et des agrafes. Et voici qu’au-delà des battants, les jeunes filles guidaient le char et les cavales tout droit sur la grande route.

Et la déesse vint m’accueillir avec empressement, prit ma main droite dans sa main, ainsi proféra des mots et m’adressa la parole avec puissance [αύδάω]: « Ô brave jeune homme [κουρος], accompagné d’immortels cochers, toi qui, avec ces cavales qui t’emportent, parvient à notre demeure, réjouis-toi, car ce n’est certes pas un mauvais destin qui t’a poussé à aller sur ce chemin (car il est loin de la voie des hommes), mais la Loi divine et la Justice. Il convient que tu sois instruit de tout, tant du cœur tranquille de la Vérité, sphère parfaite, que des opinions des mortels, dans lesquelles on ne peut avoir aucune véritable confiance. Tu apprendras également cela: que les apparences manifestées [δοκουντα], il fallait qu’elles soient comme il convient, imprégnant tout de fond en comble.


Eudoro de Sousa

As éguas que me tiram tão longe quanto o desejo alcance, escoltavam-me, guiando elas, quando me enviaramc | puseram na via no celebrado caminho da divindade | o caminho que a divindade percorre, | que por (sobre) todas as cidades conduz o homem vidente (sapiente). Por ele me conduziam, por ele me levaram os habilíssimos corcéis, tirando o carro, e donzelas à frente iam mostrando o caminho. O eixo, deflagrando nos cubos, despedia o som estrídulo da síringe — pois, de ambos os lados era movido pelo turbilhão das rodas — enquanto as filhas do Sol se apressavam em (nos) conduzir, tendo deixado, direito à luz, as moradas da Noite, e com as mãos da cabeça removendo seus véus. Ali se encontram os portais dos caminhos do dia e da noite; em cima e em baixo são mantidos por um lintel e um umbral de pedra; eles próprios, os etéreos portais, estão cobertos de batentes, dos quais a Dike vingadora possui as chaves cambiantes. Com brandas palavras, as donzelas persuadiram-na que velozmente dos portais removesse a tranca aferrolhada, e a fauce escancarada dos batentes de súbito se abriu, quando os brônzeos pilares, guarnecidos de cavilhas e chavetas, nos mancais giram, um após outro. Através dela e pela estrada ampla, as donzelas conduziram carro e corcéis. Propícia, a deusa me acolheu; e tomando, na sua, a minha mão direita, assim falou, dizendo: «Jovem, que em companhia das auriges imortais e trazido por esses corcéis, a nossa morada chegaste, eu te saúdo! Pois não foi a sorte ruim que por este caminho te enviou — que bem longe está ele das sendas humanas —, mas Dike (Justiça) e Thémis (Lei Divina). É preciso que tudo conheças, tanto o intrépido coração da verdade bem rotunda, quando a opinião dos mortais, em que não há segurança verdadeira. E, no entanto, também isto aprenderás: como as aparências, que permeiam todas as coisas, tinham de ser aceitáveis.


Fernando Santoro

1 Éguas que me levam, a quanto lhes alcança o ímpeto, caval-

2 gavam,quando numes levaram-me a adentrar uma via loquaz,

3 que de toda parte conduz o iluminado; por ela

4 era levado; pois por ela, mui hábeis éguas me levavam

5 puxando o carro, mas eram moças que dirigiam o caminho.

6 O eixo, porém, nos meões, impelia um toque de flauta

7 incandescendo (pois, de ambos os lados, duas rodas

8 giravam comprimindo-os) porquanto as Filhas do Sol

9 fustigassem a prosseguir e abandonar os domínios da Noite,

10 para a Luz, arrancando da cabeça, com as mãos, os véus.

11 Lá ficam as portas dos caminhos da Noite e do Dia,

12 pórtico e umbral de pedra as mantém de ambos os lados,

13 mas, em grandiosos batentes, moldam-se elas, etéreas,

14 cujas chaves alternantes quem possui é Justiça rigorosa.

15 As moças, seduzindo com suaves palavras, persuadiram-na,

16 atenciosamente, a que lhes retirasse rapidamente

17 o ferrolho trancado das portas; estas, então, fizeram com que

18 o imenso vão dos batentes se escancarasse girando

19 os eixos de bronze alternadamente nos cilindros encaixados

20 com cavilhas e ferrolhos; as moças, então, pela via aberta

21 através das portas, mantêm o carro e os cavalos em frente.

22 E a Deusa, com boa vontade, acolheu-me, e em sua mão

23 minha mão direita tomou, desta maneira proferiu a palavra e me saudou:

24 Ó jovem acompanhado por aurigas imortais,

25 que, com cavalos, te levam ao alcance de nossa morada,

26 salve! Porque nenhuma Partida ruim te enviou a trilhar este

27 caminho, à medida que é um caminho apartado dos homens,

28 mas sim Norma e Justiça. Mas é preciso que de tudo te

29 instruas: tanto do intrépido coração da Verdade persuasiva

30 quanto das opiniões de mortais em que não verdadeira.

31 Contudo, também isto aprenderás: como as opiniões

32 precisavam patentemente ser, atravessando tudo através de tudo.

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