Mario Ferreira dos Santos Pitagoras Resumo

Pitágoras (de Samos — 569?-470? a. C.)
Segundo alguns, foi discípulo de Ferécides de Siros e de Anaxágoras. São contraditórias as informações que nos oferecem os historiadores. No entanto, tudo indica que formou sua cultura no Oriente, no Egito, na Babilônia, em Creta, por onde viajou. De retorno a Samos, tentou fundar aí uma escola, mas tendo que abandonar a pátria, foi residir na Itália do sul, por 530, na aristocrática Crotona, onde fundou uma comunidade ou ordem religioso-moral, que se estendeu a outras cidades, às quais, foi, por vezes, chamado como legislador, influindo em seus costumes políticos e sociais. É difícil separar-se a obra pessoal de PITÁGORAS e a de seus discípulos, de sua escola, bem como o que há de lenda e de realidade, razão pela qual preferimos aqui examiná-lo dentro do pitagorismo, segundo é expresso comumente, embora o verdadeiro pitagorismo, o de grau de teleiotes (grau de mestre), seja muito diferente.

PitagorismoMovimento não só intelectual mas religioso-moral e político. Organizado em forma de comunidade, com iniciações, linguagem simbólica, cercado de mistérios e de segredos. Foi combatido severamente pelas organizações e governos democráticos da época. Os pitagóricos foram dissolvidos por um movimento popular. Pitágoras conseguiu fugir para Metaponto, onde faleceu. A missão da escola de Crotona era ensinar métodos de purificação, reservados aos iniciados. Atribuem a PITÁGORAS a promessa de uma vida futura, após a morte, onde os homens seriam recompensados, desde que cumprissem as ordens da organização e os princípios morais estabelecidos. Estava essa escola aberta tanto aos homens como às mulheres, independentemente de nacionalidade. Era uma doutrina cheia de tabus e proibições, cujas significações têm servido para diversas interpretações. A crença na transmigração das almas através dos corpos de homens e animais era atribuída a essa doutrina, não originária de Pitágoras, mas dos seus discípulos.

A concepção de Anaximenes de que o mundo estava submergido no infinito, era aceita por Pitágoras.

Para ele todas as coisas são também números (arithmós). Considerava, assim, a relação entre os números e as formas geométricas. Atribuía aos números uma relação mística. Afirmam que, quando esteve na Pérsia, conheceu Zaratustra ou Zoroastro. Cultivavam os pitagóricos a matemática e a música e sobretudo a geometria, como Filolau de Tebas, e Arquitas, de Tarento. Consideravam a música como meio para excitar e acalmar os sentimentos, e aplicaram-se a ela, não só prática, mas teoricamente. Os números não eram pensados como coisas abstratas, mas como algo de real. O ponto era o equivalente ao 1; a linha ao 2; a superfície ao 3; os corpos ao 4. (Na verdade, esse não era o pensamento pitagórico do grau superior, mas de primeiro grau (paraskeiê), grau de aprendiz).

O número dez, a famosa tetractys, é o número principal, soma dos quatro primeiros (1 + 2 + 3 + 4 = 10). Diz Filolau que o número 10 “tem uma grande força, enche o todo, atua em tudo, e é começo e guia da vida divina, celestial e humana” (tudo tem ponto, linha, superfície, volume). Com os pitagóricos, aparece o tema da libertação do homem ao se bastar a si mesmo. A preocupação pela alma, conduz os pitagóricos posteriores à doutrina da transmigração ou metempsicose, relacionada com o problema da imortalidade. Pitágoras foi um iniciado nas especulações da astronomia oriental. Descobrindo a relação fundamental da altura dos sons, com a longitude das cordas que vibram, submeteu o fenômeno do som à invariabilidade de uma lei numérica.

O assombroso dessas proporções inteligíveis, imóveis e imateriais, acessíveis ao matemático, que expressam a regularidade das aparências sensíveis e do fluxo dos fenômenos, tinha fatalmente que impressionar fundo a alma de Pitágoras, decorrendo daí toda a construção de sua simbólica, cuja influência, até os nossos dias, é observável em muitos espíritos de escol. Daí chegarem a atribuir um princípio de realidade ao símbolo, e de causalidade ao signo, não foi mais que um passo, não, porém, por parte de Pitágoras.

Em todas as coisas estão os números. Das contradições fundamentais nascem a simbolização em número: par e ímpar, direita e esquerda, repouso e movimento, macho e fêmea, reta e curva, bem e mal.

São os números que ordenam a constituição do Universo. Essa aritmologia influiu no neopitagorismo, no platonismo pitagorizante, e foi prosseguida por muitos pitagóricos, conjuntamente com investigações matemáticas e cosmológicas.

Entre os seus mais famosos discípulos podemos citar: Lysis, Filolau, Arquitas de Tarento, Alcmeon de Crotona, Epicarmo de Cos, Hipodamo de Mileto, Teano, etc.

Temas pitagóricos: a) as doutrinas dos pitagóricos são uma mescla de ciência e crenças religiosas; b) a imortalidade, a transmigração das almas (metempsicose) parentesco dos vivos, ciclo das coisas (eterno retorno dos acontecimentos já acontecidos); c) alma como princípio do movimento; d) o universo é vivo; e) os números são as essências das coisas, porque sem o número não seria possível conhecê-las, mutabilidade dos números e imutabilidade do um. (Há influência do pitagorismo na ciência moderna, em que a teoria atômica termina por ter uma noção apenas matemática da energia sub-atômica.

Só é compreensível à razão o que é extensista, portanto, medível e numerável).

Há muito de lenda na vida de Pitágoras. O livro “Versos Áureos”, que lhe é atribuído é obra de composição de seus inúmeros discípulos, sobretudo de Lysis.

Atribui-se também a Pitágoras o primeiro emprego da palavra filósofo, termo que se tornou, daí então, universal, para significar os investigadores do absoluto e intérpretes do mundo, estudiosos da sabedoria superior a Mathesis (NA: Uma análise mais vasta da filosofia de Pitágoras é por nós empreendida em Mario Ferreira dos Santos Pitagoras – «Pitágoras e o Tema do Número». A exposição que acima fizemos refere-se mais ao pitagorismo e ao neo-pitagorismo do que propriamente à filosofia do mestre de Samos, que é por nós estudada na obra que apontamos).

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