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Graal

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

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Lúcifer, em sua queda, perdeu a pedra, lapis ex coelis, lapsit exillis, que tinha incrustada na fronte [1], e que se fez em pedaços ao contato com a Terra. Assim impõe a tradicional lenda do Graal, cujo mito eterno se revestiu de outros aspectos, não menos simbólicos, como vimos anteriormente. Assim, a "pedra caída do céu" pôde encamar-se naturalmente na pedra escura encontrada em Pessinonte, simbolizando a deusa-mãe Cibele, e igualmente na "Kaaba" da Meca, no coração do mundo islâmico, trazida pelo anjo Jibrail (Gabriel) para o profeta Abraão. É também a "pedra angular - pedra do ângulo" (hajar er ruku) assimilada na pedra angular das Escrituras e representando, no plano alquímico, a pedra do "coignet" das catedrais góticas. Até os famosos "escudos dos Sálios", a Tradição prescreve que tenham sido talhados em um aerólito, na época em que o imperador iniciado, Numa Pompílio [2], reinava em Roma, salientando por aí o poder mágico celeste que os caracterizava!

Se, em persa, gor-hal significa literalmente "a preciosa pedra talhada", Urnâ (urna sugerindo vaso), na Índia, designa a pérola frontal ou terceiro olho de Shiva, que é proveniente da interação vibratória das forças da alma, cuja sede, segundo a Tradição, fica na glândula pineal, e das forças da personalidade localizadas na glândula pituitária associada ao centro frontal superior: o ajna chakra. Essas vibrações intensas estão na origem do que o sábio Patanjali [3] qualificava de "luz na cabeça" o que representa simbolicamente o coração do sol da iluminação!

Porém, o Graal é também um vaso, não nos esqueçamos; é o que contém o sangue de Cristo, mas sobretudo que serviu para realizar a transubstanciação, na tarde da Ceia, mudando o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, em Amor e Luz crísticos! Aquele que é a "Luz e a Vida" e que veio "acender o fogo sobre a terra" ofereceu seu corpo de carne ao mundo e seu corpo de Luz aos "homens de boa vontade", que, pela Eucaristia, comungam na divindade de Cristo. O mistério eucarístico se cumprirá assim através das duas espécies, do pão e do vinho [4] - símbolos de abundância e de vida do alimento celeste [5] para gerar a fusão divina. O Mestre Eckhart   não afirmaria, com justa razão, "O homem é na verdade Deus, e Deus é na verdade o homem"?


Observações

[1Dizem também que Lúcifer, ao cair, teria se chocado com um astro pela aba de sua coroa, e, segundo a gnose síria, São Miguel destacou a esmeralda lançando Lúcifer por terra.

[2Numa Pompílio era um discípulo de Pitágoras (Ovídio, As Metamorfoses, livro XV) e um sábio iniciado cuja esposa foi a célebre Egéria. Foi a origem da instituição das Vestais, virgem - virgens sagradas que deviam manter o Fogo - Fogo sagrado. Quanto ao colégio dos Sálios, comportava doze membros, sugerindo os doze signos do zodíaco.

[3A data de nascimento de Patanjali é desconhecida: situam-na habitualmente num período que vai do VIII ao III século a.C. Ele é o autor dos Yoga Sutras, a ciência do raja-ioga ou ioga real, cuja realização conduz à perfeição Cf. Mircea Eliade. Patanjali, ed. do Seuil; A Bailey, La Lumière de l’âme, ed. Lucis, e W. Q. Judge, Les aphorismes du yoga de Patanjali, ed. Textos teosóficos, Paris.

[4"Pão, literalmente, quer dizer a. substância que contém tudo, e vinho, a substância que tudo vivifica", in Eckhartshausen, La Nuée sur le sanctuaire, ed. Amitiés spirituelles, p. 138.

[5Os cátaros enunciavam assim o Pater Noster. "Dai-nos hoje nosso pão celestial (ou ainda "supersubstancial")": "Pois, o pão de Deus é aquele que vem do céu e que dá vida ao mundo (João, VI, 33). "Eu sou o pão vivo" (João VI, 35)