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Francis Bacon
FRANCIS BACON (1561-1626)
Francis Bacon, barão de Verulam, lorde chanceler da Inglaterra, que nasceu em 1561 e morreu em 1626, é uma das figuras augurais da Idade Moderna. No entanto, se distinguimos com alguma precisão entre o Renascimento e a modernidade sensu stricto, vemo-nos obrigados a incorporar Bacon à primeira das duas etapas, como culminância madura da época renascentista, deixando para Descartes o começo efetivo e maduro do mundo moderno.
Desta duplicidade de localização histórica a interpretação da filosofia baconiana sempre se ressentiu. Durante muito tempo se a considerou como uma renovação total do pensamento, como a origem da nova ciência e do método que a animou; outras vezes se diminuiu muito o alcance e o interesse do chanceler Bacon, em benefício de seu homônimo Roger Bacon, o franciscano inglês do século XIII; deste modo, a originalidade do moderno ficaria muito rebaixada: a rigor, nada teria enunciado que, em princípio, não fosse possível três séculos antes, e portanto não poderia aspirar a inaugurar uma era filosófica.
Estas duas interpretações têm fortes razões, que militam, respectivamente, a favor de ambas. É indiscutível a primazia de Roger sobre Francis no uso do método experimental e na atenção pelos fenômenos da Natureza; mais ainda, propende-se hoje a conceder maior importância ao medieval; porém, por outro lado, é ilusório negar a modernidade ao chanceler, homem de seu tempo se os houve. Num momento em que a memória de seu homônimo estava bastante apagada, Bacon soube pôr em primeiro plano a necessidade de renovar o método do conhecimento, e indicou eficazmente uma via — não a única, nem a mais importante e fecunda, porém necessária — para alcançar esse-’novo modo de saber.
Os fragmentos de Bacon que seguem são reveladores. Ao defrontar-se com a realidade humana, adquire talvez o filósofo inglês sua fisionomia mais própria, e apresenta-se como um homem renascentista. Em primeiro lugar, a compreensão do homem a partir dos pressupostos da revelação, embora não ausente, está relegada a um segundo ou terceiro plano; por outro lado, há um otimismo triunfal em suas palavras quando se refere às "prerrogativas do homem", inclusive dos "milagres da natureza humana"; não esquece o testemunho dos antigos, como bom humanista; porém, sobretudo, o mais interessante é que o interpreta tudo do ponto de vista da técnica, do domínio da Natureza pelo homem. Esta é, cabalmente, a recapitulação dos temas do Renascimento, que abrem caminho para uma época já realizada e madura: a Idade Moderna. Por isto, as obras de Bacon encerram uma antropologia que .esclarece enormemente os problemas da alma renascentista, e assinala um ponto em que se decide, entre as várias possibilidades que o Renascimento incluía, aquela que será a realidade histórica de três séculos.
Sobre Bacon pode-se ler: J. de Maistre : Examen de la Philosophie de Bacon (1839); V. Brochard: La Philosophie de Bacon (1912); Lewes: History of philosophy (1870). [Julián Marías ]
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