Evola Consciencia Samsarica

JULIUS EVOLA   — DOUTRINA DO DESPERTAR

A CHAMA E A CONSCIÊNCIA SAMSARICA

Para compreender adequadamente o ensinamento budista, é preciso, portanto, partir da ideia que tem em vista a condição de um homem, para o qual falar do atma-brahman, de seu Eu imortal, imutável, idêntico à suprema essência do universo, não seria uma linguagem "conforme à verdade" — yatha-bhutam — quer dizer baseada sobre um dado efetivo da experiência, mas ao contrário uma simples especulação, um "fazer filosofia ou teologia. A doutrina do despertar quer ser absolutamente realista. Do ponto de vista realista, o dado imediato — para um tal homem — é a consciência samsarica. O budismo procede à análise de um tal consciência e à determinação da “verdade” que lhe corresponde, em se atendo à teoria da impermanência universal e da não-substancialidade (anatta).

Logo onde, na especulação precedente do binômio atma-samsara — quer dizer Eu imutável, sobrenatural, e corrente do devir — encontrava-se em primeiro plano o primeiro termo, quer dizer o sentido do atma, o ensinamento, que serve de ponto de partida à ascese budista, põe, ao contrário, em relevo, quase exclusivamente, o outro termo, o samsara e a consciência que lhe está ligada. Todavia, este segundo termo é considerado com todas as características de contingência, de relatividade e de irracionalidade, que só podem lhe advir da confrontação com a realidade metafísica, já diretamente percebida pela intuição, realidade que, por isto mesmo, permanece tacitamente pressuposta, mesmo se, por razões práticas, a gente se abstenha de fazer dela o objeto do discurso.

Este devir não tem, por substrato, nada de idêntico, de substancial, nem de permanente. É devir da experiência mesmo, e se esgota nos conteúdos e nos momentos particulares da própria experiência. Sem limite e paradas, acabará por ser igualmente concebido como pura sucessão de estados que dão lugar um ao outro, segundo uma lei impessoal, em um círculo eterno, que podemos considerar equivalente à concepção helênica do "ciclo da geração", kyklos tes geneseos e da “necessidade”, kyklos tes heimarmenes.