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Espinosa (III, 32, Schol.): imagens enquanto afecções

quarta-feira 15 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

Tomaz Tadeu

Escólio. Vemos, assim, como a natureza dos homens está, em geral, disposta de tal maneira que eles têm comiseração pelos que vão mal; e inveja pelos que vão bem, com um ódio que será tanto maior (pela prop. prec.) quanto mais amarem a coisa que imaginam ser objeto de desfrute de um outro. Vemos, além disso, que da mesma propriedade da natureza humana, da qual se segue que os homens são misericordiosos, segue-se também que eles são invejosos e ambiciosos. Se quisermos, enfim, observar a própria experiência, descobriremos que ela nos ensina todas essas coisas, sobretudo se nos fixamos nos primeiros anos de nossa vida. Pois a experiência nos mostra que as crianças, por seu corpo estar como que em um estado de oscilação contínua, riem ou choram só de verem os outros rirem ou chorarem. E desejam imediatamente imitar tudo o que veem os outros fazerem e, enfim, desejam para si tudo o que imaginam deleitar os outros. Pois as imagens das coisas são, como dissemos, as próprias afecções do corpo humano, ou seja, as maneiras pelas quais o corpo humano é afetado pelas causas exteriores e está inclinado a fazer isto ou aquilo.

Charles Appuhn

Nous voyons ainsi qu’en vertu de la disposition de leur nature les hommes sont généralement prêts à avoir de la commisération pour ceux qui sont malheureux et à envier ceux qui sont heureux et que leur haine pour ces derniers est (Prop. préc.) d’autant plus grande qu’ils aiment davantage ce qu’ils imaginent dans la possession d’un autre. Nous voyons en outre que la même propriété de la nature humaine d’où suit qu’ils sont miséricordieux fait aussi qu’ils sont envieux et ambitieux. Enfin, si nous voulions consulter l’expérience, nous éprouverions qu’elle nous enseigne tout cela, surtout si nous avions égard à nos premières années. L’expérience nous montre en effet que les enfants, dont le corps est continuellement comme en équilibre, rient ou pleurent par cela seul qu’ils voient d’autres personnes rire ou pleurer, tout ce qu’ils voient faire par autrui ils désirent aussitôt l’imiter, et ils désirent enfin tout ce à quoi ils imaginent que d’autres prennent plaisir; c’est qu’en effet, nous l’avons dit, les images des choses sont les affections mêmes du Corps humain, c’est-à-dire les manières dont ce Corps est affecté par les causes extérieures et disposé à faire ceci ou cela.

Samuel Shirley

We therefore see that human nature is in general so constituted that men pity the unfortunate and envy the fortunate, in the latter case with a hatred proportionate to their love of what they think another possesses (by the preceding Proposition). Furthermore, we see that from the same property of human nature from which it follows that men are compassionate, it likewise follows that they are prone to envy and ambition. Finally, we shall find that common experience confirms all these points, especially if we turn our attention to childhood. For we find that children, their bodies being, as it were, continually in a state of equilibrium, laugh or weep merely from seeing others laugh or weep, and whatever else they see others do they immediately want to imitate. In short, they want for themselves whatever they see others take pleasure in because, as we have said, the images of things are the very affections of the human body, that is, the ways in which the human body is affected by external causes and disposed to this or that action.


Ver online : ÉTICA (tr. Tomaz Tadeu)