Espinosa (E 3, XXXIX, Schol.): o bem

Tomaz Tadeu

Escólio. Por bem compreendo todo gênero de alegria e tudo o que a ela conduz e, especialmente, aquilo que aplaca uma saudade, qualquer que ela seja. Por mal, em troca, compreendo todo gênero de tristeza e, especialmente, aquilo que agrava uma saudade. Com efeito, demonstramos anteriormente (no esc. da prop. 9) que não desejamos uma coisa por julgá-la boa, mas, ao contrário, dizemos que é boa porque a desejamos. E, consequentemente, dizemos que é má a coisa que abominamos. Por isso, cada um julga ou avalia, de acordo com o seu afeto, o que é bom ou mau, o que é melhor ou pior e, finalmente, o que é ótimo ou péssimo. Assim, o avaro julga que o ótimo é a abundância de dinheiro e o pior, a sua falta. O ambicioso, por sua vez, nada deseja tanto quanto a glória e nada teme tanto quanto a vergonha. Ao invejoso, enfim, nada é tão agradável quanto a infelicidade de um outro e nada tão desagradável quanto a felicidade alheia. E, assim, cada um, de acordo com o seu afeto, julga uma coisa como boa ou má, útil ou inútil. De resto, o afeto que deixa o homem numa situação tal que ele não quer o que quer e quer o que não quer chama-se temor, o qual, portanto, não é senão o medo, à medida que deixa o homem numa situação tal que ele evita, em troca de um mal menor, um mal que julga estar por vir (veja-se a prop. 28). Mas se o mal que teme é a vergonha, então o temor chama-se pudor. Se o desejo, enfim, de evitar um mal que está por vir é refreado pelo temor de um outro mal, de maneira tal que ele não sabe qual preferir, então o medo chama-se pavor, principalmente se tanto um quanto outro dos males temidos são dos maiores.

Charles Appuhn

SCOLIE. Par bien j’entends ici tout genre de Joie et tout ce qui, en outre, y mène, et principalement ce qui remplit l’attente, quelle qu’elle soit. Par mal j’entends tout genre de Tristesse et principalement ce qui frustre l’attente. Nous avons en effet montré ci-dessus (Scolie de la Prop. 9) que nous ne désirons aucune chose parce que nous la jugeons bonne, mais qu’au contraire nous appelons bonne la chose que nous désirons; conséquemment, nous appelons mauvaise la chose que nous avons en aversion; chacun juge ainsi ou estime selon son affection quelle chose est bonne, quelle mauvaise, quelle meilleure, quelle pire, quelle enfin la meilleure ou quelle la pire. Ainsi l’Avare juge que l’abondance d’argent est ce qu’il y a de meilleur, la pauvreté ce qu’il y a de pire. L’Ambitieux ne désire rien tant que la Gloire et ne redoute rien tant que la Honte. A l’Envieux rien n’est plus agréable que le malheur d’autrui, et rien plus insupportable que le bonheur d’un autre; et ainsi chacun juge par son affection qu’une chose est bonne ou mauvaise, utile ou inutile. Cette affection d’ailleurs par laquelle l’homme est disposé de telle sorte qu’il ne veut pas ce qu’il veut, ou veut ce qu’il ne veut pas, s’appelle la Peury la Peur n’est donc autre chose que la crainte en tant qu’elle dispose un homme à éviter un mal qu’il juge devoir venir par un mal moindre (voir Prop. 28). Si le mal dont on a peur est la Honte, alors la Peur s’appelle Pudeur. Enfin, si le Désir d’éviter un mal futur est réduit par la Peur d’un autre mal, de façon qu’on ne sache plus ce qu’on veut, alors la crainte s’appelle Consternation, principalement quand l’un et l’autre maux dont on a peur sont parmi les plus grands.

Samuel Shirley

By ‘good’ I understand here every kind of pleasure and furthermore whatever is conducive thereto, and especially whatever satisfies a longing of any sort. By ‘bad’ I understand every kind of pain, and especially that which frustrates a longing. For I have demonstrated above (Sch.Pr.9,III) that we do not desire a thing because we judge it to be good; on the contrary, we call the object of our desire good, and consequently the object of our aversion bad. Therefore it is according to his emotion that everyone judges or deems what is good, bad, better, worse, best or worst. Thus the miser judges wealth the best thing, and its lack the worst thing. The ambitious man desires nothing so much as public acclaim, and dreads nothing so much as disgrace. To the envious man nothing is more pleasant than another’s unhappiness, and nothing more obnoxious than another’s happiness. Thus every man judges a thing good or bad, advantageous or disadvantageous, according to his own emotion.

Now the emotion whereby a man is so disposed as to refrain from what he wants to do or to choose to do what he does not want is called Timidity (timor), which is merely fear in so far as a man is thereby disposed to avoid by a lesser evil what he judges to be a future evil (see Pr.28,III). But if the evil that he fears is disgrace, then timidity is called Bashfulness (verecundia). Finally, if the desire to avoid a future evil is checked by the apprehension of another evil, so that he does not know what preference to make, then fear is called Consternation (consternatio), especially if both the feared evils are of the greatest.

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