Na Ética [de Espinosa] é afirmada a imanência da substância absolutamente infinita aos seus efeitos como a nervura que sustenta todas as coisas singulares e faz com que se comuniquem, articulando-se umas às outras. A substância se autoproduz na autoprodução de seus infinitos atributos infinitos (ou infinitas ordens infinitas de realidade que agem em uníssono) e na produção imanente de todos os seus modos determinados, cada um deles exprimindo de maneira certa e determinada a essência e a potência do atributo que o produziu.
A imanência é demonstrada na Parte I com a teoria da causalidade substancial (no mesmo sentido em que é causa de si, a substância é causa eficiente imanente de todas as coisas, e, portanto, tudo o que existe, existe na e pela substância, sem ela não podendo ser nem ser conhecido). É demonstrada na Parte II com a definição do indivíduo e da essência singular como expressões necessárias dos atributos constitutivos da substância, isto é, a determinação da essência e potência dos modos finitos pela atividade infinita dos atributos substanciais, de maneira que nosso corpo é um modo finito da extensão infinita e nossa mente, um modo finito do pensamento infinito cuja essência é ser a ideia de seu corpo e a ideia dessa ideia (a mente é percepção da vida de seu corpo e percepção dessa percepção ou reflexão). É demonstrada na Parte III com a teoria do modo finito conatus singular como potência intrinsecamente indestrutível de perseveração na existência, engendrada pela potência infinita da extensão e do pensamento de que, nós humanos, somos modificações singulares e com a distinção entre causa inadequada e causa adequada segundo a exterioridade ou interioridade da operação da potência do conatus singular. É demonstrada na Parte IV com a distinção entre a heteronomia ou passividade, que define a servidão como submissão de nosso conatus à força das causas externas, e a atividade auto-determinada que identifica conatus e virtude e define esta última como causa adequada ou força interna da potência de existir e agir de um modo humano singular. E, na Parte V, com a demonstração de que o percurso reflexivo da mente exprime a autonomia intelectual e afetiva que nos faz tomar parte na atividade do infinito — o amor intelectual de Deus — porque a liberdade não é livre arbítrio da vontade mas autodeterminação necessária do corpo e da mente quando se tornam aptos para ser a causa interna necessária da pluralidade simultânea de afecções, ideias e afetos.