MARTIN BUBER — EU E TU
Eu e Tu representa, sem dúvida, o estágio mais completo e maduro da filosofia do diálogo de Martin Buber. Ele a considera como sua obra mais importante: obra na qual apresentou, de modo mais completo e profundo, sua grande contribuição à filosofia. Eu e Tu não é simplesmente uma descrição fenomenológica das atitudes do homem no mundo ou simplesmente uma fenomenologia da palavra, mas é também e sobretudo uma ontologia da relação. Podemos dizer que a principal intuição de Buber foi exatamente o sentido de conceito de relação para designar aquilo que, de essencial, acontece entre seres humanos e entre o Homem e Deus.
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Na verdade Eu e Tu pode ser considerada a obra mais importante de Buber não só pelo vigor do pensamento ou pela atualidade de sua mensagem, mas também pelo fato de que ela se situa no centro ou no começo de toda a obra: é a chave ou a via de acesso a todos os outros escritos pertinentes aos mais diversos domínios onde se manifestou a atividade reflexiva de Buber. Obra de maturidade, Eu e Tu teve consequências diretas nas suas obras posteriores sobre antropologia filosófica, educação, política, sociologia, bem como nos seus estudos e exegeses da Bíblia e sobre o Hassidismo ou o Judaísmo. Todas as influências de filósofos ou de correntes filosóficas, do pensamento místico em geral, do Budismo, do Taoismo, da mística judaica e do Hassidismo se encontram nesta monumental reflexão, verdadeira obra-prima da primeira metade do século. A mensagem de Eu e Tu, em cada uma de suas três etapas, apresenta temas que ainda hoje provocam e fecundam nossa reflexão.
A base de Eu e Tu não é constituída por conceitos abstratos mas é a própria experiência existencial se revelando. Buber efetua uma verdadeira fenomenologia da relação, cujo princípio ontológico é a manifestação do ser ao homem que o intui imediatamente pela contemplação. A palavra, como portadora de ser, é o lugar onde o ser se instaura como revelação.
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Mais do que uma metafísica ou uma teologia sistemática, Eu e Tu é uma reflexão sobre a existência humana. A questão antropológica do sentido da existência interpelou Buber. Tudo o mais está integrado a esta questão. Por exemplo, a problemática de Deus, ponto importante nas obras de Buber, é integrada na questão da pessoa humana, ser de relação. Assim, Deus será o Tu ao qual o homem pode falar e nunca algo sobre o qual ele discorrerá sistemática e dogmaticamente. O Tu eterno é aquele que nunca poderá ser um Isso. Sobre a questão de Deus, a intuição fundamental de Buber é entender o novo tipo de relação que o homem pode ter com Ele, porque para o homem não importa talvez o que Deus é em sua essência, mas sim o que Deus é em relação a ele, homem. Deus é, pois, Aquele com o qual o homem pode estabelecer uma relação interpessoal. Buber encaminha o problema de Deus, ultrapassando a dicotomia sagrado-profano, através da realidade da existência humana.
Eu e Tu se apresenta em três partes. Segundo um antigo projeto de Buber abandonado logo no início, Eu e Tu representava o primeiro capítulo ou a primeira parte de uma obra em cinco partes. Esta primeira parte, Eu e Tu, Buber a subdividiu nos seguintes tópicos: 1. Palavras; 2. História; 3. Deus.