noesis (estoicismo)

16. A versão estoica da noesis, a operação do hegemonikon, é propriamente a katalepsis ou apreensão. O processo começa com uma impressão (typosis) nos sentidos que tem como resultado uma imagem sensível (phantasia; ver aisthesis 24-25) Estas são levadas, via pneuma, para o hegemonikon onde ela é primeiro admitida (synkatathesis, adsensio) e é assim apreendida (katalepsis; Cícero, Acad, post. I, 40-42). Deste modo o que era uma imagem sensível (phantasia) torna-se uma imagem inteligível ou conceito (ennoia). Nos primeiros anos este é quase um processo inconsciente e a criança forma vários «preconceitos» (prolepsis) sob cuja influência o hegemonikon amadurece até ao ponto em que é capaz de criar os seus próprios ennoiai conscientes (SVF II, 83; segundo o mesmo texto, a operação completa do hegemonikon começa aos sete anos de idade ou, pelo menos, entre os sete e os catorze, juízo não baseado na observação do comportamento racional dos adolescentes mas no começo da puberdade e na primeira produção de esperma; ver SVF II, 764, 785). Tal como no epicurismo, a noesis não é só dos aistheta mas alcança livremente uma vasta área de pensamento, criando os seus próprios ennoiai pelo recurso aos princípios da similaridade, analogia, privação, oposição, etc. (SVF II, 87).

Sobre a primeira prolepsis estoica do bem e do mal, ver oikeiosis.

17. Esta teoria não persistiu completamente intacta. Crisipo fez algumas revisões importantes que tiveram como resultado a reunificação da psyche sob a égide do hegemonikon de tal modo que mesmo os pathe se tornaram juízos intelectuais (kriseis; SVF III, 461) e, em oposição direta à visão platônica da alma tripartida, a atividade volitiva foi subsumida à intelectual (SVF II, 823; ver aisthesis 25, pathos 12). A isto seguiu-se uma forte reação platonizante com Posidônio que se opôs a Crisipo sobre a natureza intelectual dos pathe e restabeleceu a divisão platônica da alma (Galeno, Placita Hipp. et Plat. 448, 450). Posteriormente assiste-se ainda a uma distinção mais acentuada entre a psyche e o noûs (particularmente aparente em Marco Aurélio III, 16; XII, 3) com ênfase na natureza divina e imortal ao noûs aposto às outras partes da alma (ver sympatheia 5), e, devido à presença deste daimon nela (assim Galeno, op. cit. 448; Plutarco, De gênio Socr. 591c-f; inspiração platônica no Timeu 90a e ver daimon), um novo interesse pela posição média da alma (ver psyche 29).

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