ECLI
Se tivesse que escolher entre tantos e tantos seres que viveram com a desgraça mais cara a meu coração, preferiria sem dúvida alguma as mulheres infelizes no amor que deram expressão à infelicidade. A decepção amorosa revela nestas mulheres um caráter patético raro e contido, um mistério doce, uma indeterminação saborosa. Safo, Gaspara Stampa, Julie de Lespinasse evocam um mundo à parte na melancolia e na decepção, um universo de dilacerações femininas, de corações desconsolados. E, se eu tentasse definir o encanto único da desgraça, não poderia omitir a delicadeza que tão estranhamente o envolve. Um homem abandonado ou iludido no amor oferece uma imagem menos dolorosa e, em todo caso, menos estranha porque a possibilidade do homem ser feliz depende dele mesmo, de sua masculinidade, em nenhum caso de seus valores complementares. Mesmo se fosse poeta, sua condição masculina o obrigaria a manter-se à distância de sua infelicidade e da mulher amada que deveria amá-lo. Seja como for, ele tem o consolo do desprezo natural do homem pela mulher. A decepção do homem é inestética e covarde; por isso todos os grandes amantes infelizes extraíram de sua decepção razões de superioridade, de orgulho, como se o fato de ter sido abandonado ou de não ser correspondido em seu amor tivesse lisonjeado seu orgulho. Ser feliz ou infeliz é algo que reside na essência do homem de forma imanente; sua própria condição no mundo é menos determinada pela relatividade dos sexos que a da mulher. Podemos falar de homem, mesmo quando não tivesse existido nem existisse uma mulher; isso não vale para a mulher. Sem o homem, a mulher é uma contradição em si mesma.